Albuquerque, Chico (Fortaleza - Ceará)

Vida: 
1917 a 2000
Autor: 
Clarissa C. M.M. de Castro
Campo de atuação: 
Fotografia Publicitária
Fotojornalismo
Fotoclubismo
Trajetória fotográfica: 
Aba – Filme
Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB)
J.W. Thompson
Editora Abril
Destaques: 
Still do documentário It’s all true de Orson Welles
Mostra individual “Jangadas” no MASP
Livro: “Mucuripe”
Prêmio pela FUNARTE de contribuição à fotografia brasileira (1998))

Francisco Afonso de Albuquerque nasceu em 24 de Abril de 1917, em Fortaleza, Francisco Afonso de Albuquerque, mais conhecido como Chico Albuquerque, Albuquerque no meio publicitário, ou “Seu Chico” no Ceará, foi um fotógrafo brasileiro pioneiro na fotografia publicitária. Filho dos fotógrafos Adhemar Bezerra de Albuquerque e Lasthenia Campos de Albuquerque, Chico encontrou na arte e na fotografia, em especial, não apenas uma atividade profissional, mas sim, uma forma prazerosa de encarar, decodificar e interferir no mundo a sua volta.

Seu primeiro contato com a fotografia ocorreu em 1932 ao auxiliar seu pai, que além de fotógrafo era cinegrafista amador, em um curta metragem produzido por este sobre a seca. A partir de então engrenou na atividade fotográfica e, como retratista, deu início a sua profissionalização em um estúdio montado pela própria família, em Fortaleza, chamado Aba-Filme1. De Fortaleza, Nordeste do Brasil, Chico Albuquerque veio residir no Sudeste, pois, por ter sido escolhido para realizar o still2 do documentário “It’s all true”3 de Orson Welles4, desde 1942 fazia viagens freqüentes para o Rio de Janeiro. Em 1947 estabeleceu-se em São Paulo. Criou um estúdio próprio e associou-se ao Foto Cine Clube Bandeirantes – FCCB5, participando, desde então, do movimento fotoclubista6.

Foi em São Paulo, em 1949, trabalhando na J.W Thompson7, que Albuquerque deixou sua contribuição mais inovadora como fotógrafo ao introduzir, na publicidade brasileira, a fotografia como recurso visual, em uma época onde o “bico de pena” era quem a ilustrava. A primeira campanha publicitária com o suporte fotográfico foi para a Jhonson & Jhonson. A partir daí, uma nova forma, não apenas mais atrativa, mas também realista, de se veicular os produtos e suas imagens, foi instituída como diretriz e modelo para as campanhas publicitárias posteriores.

Em 1952, no Museu de Arte de São Paulo – MASP, inaugurou sua mostra individual, Jangadas, através de fotografias, realizadas na praia de Mucuripe, sobre o cotidiano dos jangadeiros pescadores e suas relações, não apenas, interpessoais, mas com o mar, de onde retiram o sustento para a vida. Albuquerque apresentou ao mundo, através de suas lentes, o ritmo das praias cearenses, embalado por esses profissionais, que integram a paisagem e a vida social do litoral nordestino.

Chico Albuquerque expunha seu ecletismo fotográfico ao ser capaz de dar vida, em suas fotografias, a temas tão diversos entre si. Entre as décadas de 1950 e 1970 trabalhou em fotografias publicitárias, uma de suas especialidades. Produziu fotos para anúncios automobilísticos, de cigarros, alimentos, etc... Chico era o fotógrafo capaz de percorrer, tanto o universo simples, rústico e suado, das praias cearenses, quanto o luxo e o glamour instigantes das campanhas publicitárias.

Também como retratista, Chico fotografou diversas celebridades tanto do mundo político quanto do mundo artístico, como: Juscelino Kubitschek (1955), Burle Marx (1952), Cacilda Becker (1955), Luiz Gonzaga (1955), Walmor Chagas e Vera Nunes (1955), entre outros tantos nomes.

A partir de 1967, Chico Albuquerque iniciou um trabalho de reestruturação da editora Abril que, em 1968 lança a revista Veja e, posteriormente, cadernos e revistas automobilísticas, entre outros segmentos também expandidos a partir de então, no mercado brasileiro.

Enxergando na tecnologia uma aliada à técnica fotográfica, Chico Albuquerque sempre buscou o que havia de mais moderno no campo da fotografia para aliar à competência visual, na produção das imagens que se eternizaram através de suas lentes. Em 1958, foi o primeiro fotógrafo a importar flashes eletrônicos para o Brasil e, com o advento, décadas mais tarde, da tecnologia digital, entusiasmou-se ao ver a praticidade e precisão deste recurso que, sem dúvida, revolucionou a fotografia mundial.

Em 1975 volta a Fortaleza, dando continuidade ao seu trabalho fotográfico tanto nas praias cearenses quanto publicitário. Finalmente, em 1989 lança seu livro, chamado Mucuripe, onde, nele, reúne as fotos produzidas na década de 1950, no litoral cearense. Já em seus últimos anos de vida, Chico Albuquerque recebeu o prêmio de contribuição à fotografia brasileira, em 1998, entregue a ele pela Fundação Nacional de Arte – FUNARTE. E, esta foi apenas uma das premiações recebidas por esse fotógrafo que, traduzindo fotografia em arte, foi imprescindível para a trajetória fotográfica do Brasil.

Dentre as premiações recebidas, ao longo da segunda metade do século XX, o Prêmio Foto Cine Brasileiro – Medalha de Ouro – inaugurou a lista, a partir de 1950, de homenagens e premiações a Chico Albuquerque por seu trabalho incansável pela fotografia brasileira. Em 1951, recebeu do 10º Salão Fotográfico Internacional de São Paulo, a Medalha de Bronze.

Entre 1952 e 1954 recebeu quatro premiações fora do Brasil, algumas delas integrando o circuito de exposições fotoclubísticas. São elas: em 1952, Buenos Aires, na Argentina, o Grande Prêmio de Honra Alejandro Del Conte. Ainda em 1952, no Salone Internationale de la Técnica, em Turim, Itália. Em 1953, recebeu Medalha de Prata, pela Sociedade Fotográfica de Guipurcod, no Salão Internacional de Fotografia de San Sebastián, na Espanha. E, finalizando o ano de 1953, Medalha de Ouro, pelo melhor retrato, no Salão Internacional de Frankfurt, na Alemanha. Em 1954, seu trabalho foi reconhecido na Holanda, no XIV Focus, Salon Amsterdan.

No Brasil, em 1954 recebeu Medalha de Prata no I Salão Internacional de Santos, em São Paulo. Em 1958 foi homenageado por publicitários paulistas pela sua imensa contribuição à publicidade brasileira. E, em 1998, com já citado acima, seu rol de homenagens e premiações foi coroado com o Prêmio Nacional de Fotografia pela FUNARTE. Uma das principais homenagens rendidas ao fotógrafo, porém, após seu falecimento, foi a fundação do Instituto Cultural Chico Albuquerque, em 2003, em Fortaleza, sua cidade natal.

Sobre as exposições realizadas, ainda em vida, Chico Albuquerque pôde expor sua obra, trabalhando seus diversos temas, sob diferentes jogos de luz e panos de fundo. Em 1952, como já citado no texto, Chico apresentou no MASP, em São Paulo, Jangadas, com fotografias sobre o cotidiano dos jangadeiros cearenses. Em 1978, exibiu, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, Frutas, na Galeria Bonino e no Banco Boston, respectivamente.

Já em 1980, em uma exposição sobre Uma Década de Fotografia da Sociedade Paulista, Chico apresenta parte do seu trabalho, produzido em São Paulo, na Galeria Fotoptica. Em 1987, expõe imagens sobre Jericoacoara, belíssima praia cearense, no Museu da Imagem e do Som em São Paulo. E, já na década de 1990, em seus últimos anos de vida, Chico Albuquerque, novamente no MASP, integrou a Coleção Pirelli de fotografias e em 1999, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, reuniu suas obras em Chico Albuquerque, uma retrospectiva de seus 65 anos de produção fotográfica.

Após seu falecimento, as exposições de suas obras continuaram a ser veiculadas e ofertadas ao público, não apenas no Brasil, com na França. Em 2001, a Pinacoteca do Estado de São Paulo apresentou o ensaio fotográfico dos jangadeiros realizado na praia de Mucuripe, enquanto, no mesmo ano, o Rio de Janeiro inaugurava o Centro Cultural da Justiça Federal com a Retrospectiva Chico Albuquerque. A exposição Mucuripe foi levada a França durante os anos de 2004 e 2005, sendo expostas em três regiões diferentes: Musée National de la Marine em Brest (2004), Paris (2005) e Rochefort (2005).

  • 1. De grande importância, não apenas, para a fotografia brasileira, mas mundial, pertence a Aba-filme o único registro fotográfico e cinematográfico realizado no cangaço brasileiro. Durante o Estado Novo, de Getúlio Vargas (1937 – 1945), o estúdio sofreu a ação coerciva do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) ao ter sua coleção censurada.
  • 2. ?
  • 3. Documentário baseado na iniciativa de jangadeiros que, indo de jangada de Fortaleza ao Rio de Janeiro, tinham o objetivo de chamar a atenção de Getúlio Vargas para os direitos trabalhistas desta classe profissional. Este documentário ficou inacabado, pois, com a morte de um dos jangadeiros, em um acidente na chegada ao Rio de Janeiro, Orson Welles voltou aos Estados Unidos.
  • 4. Reconhecido diretor, roteirista, produtor e ator Norte americano. Entre outros longas metragens, dirigiu Cidadão Kane. Nasceu em 6 de Maio de 1915 em Wisconsin e faleceu em 10 de Outubro de 1985 em Hollywood.
  • 5. Criado em 28 de Abril de 1939, no Centro de São Paulo, reunia admiradores e apaixonados pela arte, até então não valorizada, de fotografar.
  • 6. Este movimento foto responsável pela elevação da fotografia ao status de expressão artística e, não apenas, documental.
  • 7. Agência de publicidade norte americana, fundada em 1864. Integrando-se no mercado brasileiro a partir de 1929, J.W Thompson movimentou o campo publicitário no Brasil, participando de diversas atividades para ao incremento da comunicação, através da otimização dos recursos audiovisuais nacionais.
Referências: 
http://terradaluzeditorial.blogspot.com/2010/03/lancamento-do-livro-chico-albuquerque.html (Acesso em 20/05/2010)
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1408&cd_item=1&cd_idioma=28555 (Acesso em 20/05/2010)
http://www.photomagazine.com.br/materia.asp?id_materia=92 (Acesso em 20/05/2010)
http://www.chicoalbuquerque.com.br (Acesso em 21/05/2010)
Jornal A Folha de São Paulo em matéria da seção Ilustrada de 1º de Abril de 2010.

 

 

ISBN: 978-85-63735-10-2