Antônio Nery, nascido em 2 de Janeiro de 1935, em Muzambinho, no Sudeste mineiro era o caçula dos cinco filhos da senhora Marrachet. Órfão de mãe com apenas dois anos de idade, tornou-se, ao longo de sua vida, um dos grandes fotógrafos brasileiros. Seu trabalho, abrangente, permeia o universo político, social e cultural brasileiro, registrando desde comícios, passeatas, debates, à cena musical carioca dos anos 60. Na sua infância, em Minas Gerais, estudou no Internato São José de Muzambinho, deixando a cidade em 1949, com seu irmão mais velho, para ir morar em São Paulo. Em 1950 ambos chegaram ao Rio de Janeiro e Antônio consegue seu primeiro emprego para ajudar o irmão com as despesas.
Em uma pensão era o encarregado dos serviços gerais e, depois, trabalhando em uma recauchutadora, foi arquivista e auxiliar de contador. Aos dezoito anos serviu ao exército, onde cuidou tanto dos cavalos quanto do almoxarifado do quartel. Ao término de sua experiência nas forças armadas, Antônio volta ao mercado, servindo café em uma empresa de títulos de capitalização. Conciliou o trabalho com o estudo de modelagem e desenho artístico no Liceu de Artes e Ofícios. Amante das artes e suas representações, ainda na década de 1950, entrou em contato com o mundo da fotografia através de um amigo fotógrafo que lhe guiou os primeiros passos. Nascia então, não apenas um hobbie, mas uma carreira. Começou fotografando, com sua Freck Select as festas de Sábado do Clube Independente, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.
Em 1959 conseguiu emprego de laboratorista no jornal A Última Hora. Após um período de, mais ou menos, um ano foi indicado para trabalhar como fotógrafo do Copacabana Palace, iniciando desde então seu contato fotográfico com a música e suas personagens. Em 1962, retornando ao fotojornalismo, ingressou na Manchete e na Fatos & Fotos como repórter fotográfico, cobrindo pautas com temáticas variadas, por todo o Brasil. Tanto a convenção da UDN em Curitiba quanto à pesca da baleia no litoral Fluminense foram alvos das lentes ecléticas e assertivas de Antônio Nery. De 1964 a 1965 fotografou para O Dia e A Notícia. Em plena ditadura militar, fazia a cobertura dos acontecimentos políticos que, após passar pela censura, poderiam ou não ser publicados. Em 1966, de volta ao Última Hora, como repórter fotográfico, Antônio fotografou para as recém criadas colunas Zona Sul e Zona Norte.
Com a reabertura da Folha da Tarde, em 1967, foi convidado a ir para São Paulo. Voltando para o Rio em 1969, onde tinha deixado sua mulher e seus filhos, Antônio recebeu o convite de Erno Schneider, na época editor de fotografia do jornal O Globo, para integrar sua equipe de fotógrafos. No O Globo Antônio trabalhou durante oito anos e meio na coluna Sociedade e com televisão, ficando conhecido nas altas rodas sociais. Porém, o restante de seus quase vinte e quatro anos de empresa foram dedicados às colunas policiais e políticas do jornal. O mesmo fotógrafo que havia registrado o início da ditadura militar com suas lentes focava seu olhar, naquele momento, para o processo de redemocratização do Brasil. Aposentou-se em 1994, mas mesmo assim ainda trabalhou por um ano e meio no plantão da madrugada do O Globo.
E, como freelancer para O Dia e para a Tribuna da Imprensa encerrou seus préstimos para a história do fotojornalismo brasileiro. Amante das fotografias em movimento, fotógrafo da Bossa Nova e eternamente grato aos amigos que o ajudaram profissionalmente, Antônio Nery é dono de um extenso arquivo fotográfico que, além de compor sua trajetória profissional, compõem partes da política, cultura, economia e sociedade brasileiras.
