Yasunaka , Yutaka (Sapporo - ilha de Hokkaido - Japão - )

Vida: 
1926
País: 
Japão
Autor: 
Daniel Choma
Edson Luiz da Silva Vieira
Tati Costa
Campo de atuação: 
Retratos fotográficos
Fotografia documental
Trajetória fotográfica: 
Foto Estrela
Destaques: 
Publicação e exposição individual “Revelações da História: o acervo do Foto Estrela.”

 

Yutaka Yasunaka nasceu no Japão, na cidade de Sapporo, ilha de Hokkaido, em 1926. Em 1928 migrou para o Brasil com seu pai, o fotógrafo japonês Suejiro Yasunaka e sua mãe, Shizu Hamano Yasunaka. A família se estabeleceu na Colônia Iguape, de imigrantes japoneses, na cidade de Registro-SP, onde estabeleceram o estúdio fotográfico Photo S. Yassunaka. Montado a cavalo e carregando os equipamentos, seu pai percorria a região fotografando famílias japonesas para compor um álbum fotográfico da Colônia Iguape, que foi impresso no Japão. Posteriormente, o mesmo trabalho foi realizado na Colônia Bastos-SP.

Com a adesão do Brasil aos Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses aqui estabelecidos sofreram perseguições e foram proibidos de falar o idioma japonês. Em 1941, a família decide retornar ao Japão, porque o pai gostaria que os filhos recebessem educação japonesa. Além de estudar, Yutaka trabalhava com a revelação de radiografias no hospital municipal da cidade de Bibai. Em 1945, alistou-se no exército japonês pouco antes do final da guerra. Com a derrota do Japão foi feito prisioneiro de guerra e sobreviveu três anos retido na Sibéria. Nesse período, Yutaka perdeu o contato com a família, e foi considerado morto. Na única oportunidade de escrever para casa, estava com a mão direita machucada e pediu a um amigo que escrevesse a carta. A família, ao receber a correspondência, não reconheceu a letra e desconfiou se tratar de uma estratégia russa para esconder sua morte.

Depois da traumática experiência, e diante da crise econômica do pós-guerra, a família decide emigrar definitivamente do Japão para ao Brasil em 1951. Viajam em onze pessoas, Yutaka, recém casado com Junko, os pais Suejiro e Shizu, com mais sete filhos.

A bordo do Ruys, um navio de carga, a viagem para o Brasil durou 4 meses. As paradas em cada porto tomavam dias, e com isso os Yasunaka aproveitaram para conhecer lugares e pessoas em diferentes partes do mundo. Saindo do Japão em 1951, passam por Hong Kong, Cingapura, Índia, África, Montevidéo e Buenos Aires, aportando em Santos no dia 25 de março de 1952. O álbum de fotografias pessoais de Yutaka Yasunaka sobre esta viagem guarda belas imagens, até hoje preservadas.

No Brasil a família se estabelece em Marialva-SP, e procura uma oferta de trabalho em algum estúdio fotográfico. São comunicados por uma amiga que morava em Londrina-PR, que o alemão Carlos Stenders, proprietário do Foto Estrela estava interessado em vender parte de seu estúdio fotográfico. Yutaka deixa a família em Marialva e parte para Londrina, a fim de empreender a negociação.

A princípio, o alemão colocou à venda somente o laboratório que ficava nos fundos. Para aprender os procedimentos químico-fotográficos, Yutaka passa seis meses como assistente de Carlos Stenders. Os negativos, nessa época, já eram de acetato, mas os filmes em formato 6x6cm e 6x9 cm exigiam bastante trabalho e dedicação do laboratorista. Yutaka sorri ao contar que “o alemão era difícil de negociar” e somente no dia 01 de outubro de 1952 a família Yasunaka consegue adquirir também o estúdio e a loja.

O Foto Estrela é um dos primeiros estúdios de Londrina, fundado por Stenders em 1938 e mantido em atividade por Yutaka Yasunaka até 2008. Ao longo das décadas, gradativamente, Yutaka sentiu o declínio das atividades fotográficas em preto e branco, diante do crescimento dos processos de revelação em “minilab” e, porteriormente, dos processos digitais. Nos últimos anos de atividade, a maior parte dos serviços prestados pelo Foto Estrela concentrava-se em revelação de radiografias e fotografias especializadas odontológicas, ou ainda, retratos instantâneos 3x4.

O material reunido em setenta anos somava cerca de 5 mil negativos. A maioria, clássicos retratos: rostos de bebês com diferentes expressões para montagens, casais de noivos, crianças em primeira comunhão, retratos de família ou cartões de visita, etc. Ao longo do tempo, o mesmo cenário e pano de fundo com pintura em tela foram mantidos, vestígios para datação das imagens são encontrados apenas nos testemunhos das indumentárias e suaves alterações de modos de posar para a fotografia. Dentre as faces retratadas, é marcante a presença de japonesas e japoneses.

Além dos retratos, cerca de 1200 fotografias registram a história urbana e rural de Londrina, os meios de habitar uma terra, construindo edificações e destruindo matas. Estas fotografias eram produzidas no objetivo de compor cartões postais para venda, ou em reportagens fotográficas encomendadas.

Aproximadamente metade das imagens são vistas aéreas, interessantes indicadores das mutações no espaço da cidade ao longo do tempo. A cada vôo, feito a uma velocidade média de 130 km por hora, Yutaka chegava a disparar até cinco filmes de 12 chapas 6x6cm, Asa 50, de sua Rolleiflex. Ajustava o foco no infinito e se contorcia para realizar as imagens sem que aparecessem as asas do avião. Segundo ele, os melhores vôos eram a 300, 400 metros de altura, e tinha preferência por dias sem nuvens, cujas sombras ‘manchariam’ as vistas aéreas.

A maioria das fotografias encontradas no Foto Estrela são de autoria de Yutaka Yasunaka, registradas em negativos de acetato tamanho 6x6 cm. E algumas dezenas de fotos são de Carlos Stenders, em negativos de acetato 6x9 cm, registrados no final da década de 1940 e início da década de 1950, e ficaram no laboratório quando foi vendido para Yasunaka.

Em 2005, Edson Vieira trabalhava como laboratorista no Foto Estrela e notou as caixas de negativo depositadas em um quartinho desativado nos fundos do estúdio. Agrupadas somente por ano de produção, o material estava precariamente armazenado em caixas de papel fotográfico, expostos ao calor e à umidade. Parte do material já se encontrava em avançado estado de deterioração. Diante da importância histórica e cultural do acervo, iniciou-se uma mobilização para que este não se perdesse pela ação do tempo e do esquecimento. O projeto “Revelações da História: o acervo do Foto Estrela”, iniciado naquele ano, viabilizou recursos e realizou a higienização, catalogação, classificação e digitalização dos negativos, bem como a organização e publicação de livro, CD-Rom, acervo para acesso na internet.

As fotos podem ser vistas em exposição coletiva permanente na Rodoviária de Londrina (Terminal Rodoviário José Garcia Villar) e uma exposição individual itinerante circulou por vários equipamentos culturais de Londrina: Espaço de Fotografia Ouro Verde (2008), Museu de Arte de Londrina (2006) e nos eventos Fotolink - Encontro Internacional da Imagem (2010) e Imin 100 londrina (2008), dentre outros.

Cerca de cinqüenta anos após sua revelação, aqueles negativos voltavam, enfim, a entrar em contato com a luz e a história de homens e mulheres. No trabalho, coordenado pelo Instituto Câmara Clara, tão significativo quanto a preservação e salvaguarda, é o acesso às imagens, por isso a preocupação em distribuir gratuitamente exemplares da publicação para escolas públicas de Londrina, bibliotecas e associações culturais. Atividades que contribuíram decisivamente para que as imagens passassem a circular com vivacidade no meio social.

Yutaka Yasunaka, que até então era pouco conhecido como um dos importantes fotógrafos pioneiros de Londrina, passou a ser entrevistado regularmente pelos veículos de imprensa locais. Desde 2007 recebeu várias homenagens públicas, com destaque para o título de Cidadão Honorário de Londrina, recebido da Câmara de Vereadores.

A sociedade se apropriou das imagens do acervo do Foto Estrela dando a elas diversos usos e leituras. Fotos foram cedidas para ilustrar publicações das áreas de História, Geografia e Arquitetura; outras, utilizadas na campanha publicitária da companhia de telecomunicações local, em comemoração ao 70º aniversário de Londrina, sendo impressas em cartões telefônicos, calendários de mesa, bolso e parede; muitas tantas foram e continuam sendo objeto de estudo de artigos e dissertações acadêmicas Brasil afora[1]. Além de disseminadas pela internet, seja em blogs ou mesmo por e-mail na forma de powerpoints, as imagens do acervo também receberam outros usos ‘piratas’ em espetáculos teatrais e paredes de boteco. A continuidade do trabalho desdobrou-se em novas ações de pesquisa, difusão e educação patrimonial, que resultaram em re-edição ampliada do livro de fotos.

Ao encerrar as atividades do Foto Estrela, o imóvel localizado em pleno centro da cidade de Londrina, foi vendido. Com o fechamento do Foto Estrela, os originais dos retratos que ainda não haviam sido objetos de ação patrimonial corriam risco, e foram gentilmente recebidos pelo Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da Universidade Estadual de Londrina. Antigos artefatos fotográficos, câmeras, ampliador, tanques de revelação, o cenário do estúdio original da década de 1940 e outros utensílios que contam um pouco da história do desenvolvimento técnico da fotografia foram doados ao Museu Histórico de Londrina. 

O prédio onde funcionava o estúdio, o laboratório e ainda abrigava a residência da família Yasunaka, era um exemplar da arquitetura art déco dos anos 1950, mas foi demolido para dar lugar a um estacionamento. O fotógrafo trocou as câmeras pelos microfones e, hoje em dia, dedica-se ao canto participando de festivais de canção japonesa, uma marcante atividade cultural nipônica.


[1] Por exemplo, ver VIEIRA, 2010

    

         


 

 

Referências: 
CHOMA, Daniel; COSTA, Tati; VIEIRA, Edson Luiz (orgs.) Revelações da História: o acervo do Foto Estrela. 2ªed. Londrina: Câmara Clara, 2012.
VIEIRA, Edson Luiz da Silva. Sobre a luz da escuridão: memórias e sentidos presentes em acervos visuais anônimos. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Londrina, 2010.

 

 

ISBN: 978-85-63735-10-2