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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Brenda Ramos Maganha
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Brenda Ramos Maganha foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF – 2014 (Entrega do memorial – 11/2017)

 

Memorial - Relato de Experiência no PIBID/UFF

Eu, Brenda Ramos Maganha, 23 anos, nascida no dia 24 de julho de 1993, na cidade do Rio de Janeiro, cursei o ensino fundamental em duas escolas particulares diferentes. Do Jardim de Infância 1, na época, até a 6ª série (atual 7º. Ano), estudei no Colégio Célio Rodrigues, situado no Cachambi, Rio de Janeiro. Depois, conclui os 8º e 9º anos no Colégio Nossa Senhora da Misericórdia, no Andaraí, Rio de Janeiro. Por fim, cursei o ensino médio todo na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, um dos polos da FAETEC no Maracanã, onde também me formei como técnica em Telecomunicações. Além de técnica em Telecomunicações, sou professora de inglês em um curso de idiomas. Para obter esse trabalho, concluí o ensino avançado de inglês na instituição e participei de cursos de gramática, literatura e didática, pois são pré-requisitos para se tornar professor da mesma.

Até a 6ª série do ensino fundamental meu contato com a matéria de História era superficial. As professoras, em sua maioria, trabalhavam com uma metodologia “conteudista”, valorizando o conteúdo do livro didático e as avaliações bimestrais. Somente na 5ª série tive uma professora que, mesmo trabalhando com os conteúdos do livro didático, tentava aproximar aquele conteúdo à nossa realidade. Foi a minha primeira impressão positiva relacionada à História. Quando mudei de escola, nos 8º e 9º anos, tive um professor que, até hoje, considero uma das minhas inspirações. A forma de abordar os conteúdos era mais humana, trazendo-os para a nossa realidade. Ele contava com a colaboração da turma para montar atividades em grupo e com a ajuda de outros professores, como a professora de Geografia e o professor de Biologia, fizemos um passeio para Petrópolis, visitando pontos históricos. Foi durante as suas aulas que tive certeza quanto à minha futura profissão, entendi que queria ser professora de História.

Porém, quando passei para o ensino médio em uma escola técnica estadual, as percepções do futuro mudaram. As condições financeiras em casa me levaram a estudar em uma escola pública, assim como fez a minha irmã mais velha. A única que permaneceu na escola particular foi a minha irmã gêmea. Foi um momento de grande aprendizado para todas nós. Nesta escola técnica estadual, tive contato com pessoas de diferentes classes sociais e de diferentes interesses. Pessoas que compartilharam comigo as dificuldades do ensino em uma escola pública, desde o espaço físico com instalações precárias, até insatisfações dos professores por falta de salário, o que, consequentemente, refletia nas suas aulas. Um dos exemplos desse reflexo ocorreu justamente com os professores de História durante todo o meu ensino médio. Eles pouco apareciam para dar aula e, quando estavam em sala, pediam para que os alunos copiassem o conteúdo do livro didático em seus cadernos. Essa experiência me desmotivou bastante quanto ao que havia planejado para o meu futuro. Percebi que eles eram exemplos a não serem seguidos, pois, apesar de entender que passavam por dificuldades com a instituição, eles não cumpriam a responsabilidade de educar, transformar e motivar muitos jovens que estavam começando a trilhar o caminho para alcançarem seus sonhos.

Não pude concluir o ensino técnico no mesmo tempo que terminei o ensino médio. Eram muitas matérias por dia e não me via como técnica de Telecomunicações, o que me desmotivava e me fez repetir em uma matéria do técnico, atrasando minha formação do mesmo. Por isso, quando prestei vestibular, ainda cursava algumas matérias do técnico e, ao mesmo tempo, estagiava em uma empresa para conseguir o certificado como técnica. Na primeira tentativa, não consegui pontuação suficiente para entrar para História, mas sim para Antropologia. Cursei um período de Antropologia na UFF, em 2012.1, quando aconteceu uma das greves mais longas da universidade. Porém, acompanhando as reclassificações, percebi que entraria para História na UFF no período de 2012.2. Sendo assim, cancelei minha matrícula em Antropologia e aguardei ser chamada para História. Foi o momento mais feliz da minha vida. São poucas as pessoas que têm a oportunidade de viver seus sonhos, mas eu tive a chance de fazer o meu acontecer e de vivenciá-lo. Não escrevo isso para soar interessante, mas sim porque foi um dos poucos momentos em que tive muito orgulho de mim e no qual fiz a minha família muito feliz. As pessoas que mais me apoiaram, puderam compartilhar da minha felicidade e isso não tem como medir em valores. Duas das pessoas mais importantes são as minhas avós. Uma, que infelizmente não está mais aqui, cuidou de mim e das minhas irmãs. Ela nos educou e nos criou, enquanto minha mãe trabalhava. A outra foi professora de História durante a ditadura. Quando passávamos as férias na casa dela, ela nos contava histórias para dormir e até hoje compartilha comigo as experiências de ser uma professora de História em um país tão conturbado. A elas, devo tudo que conquistei e tudo que ainda vou conquistar. Serei eternamente grata.

Apesar de ter passado, cursar as matérias não foi fácil para mim. Estava concluindo o estagio técnico, para conseguir cumprir as horas obrigatórias, tive que abandonar quase todas as matérias da faculdade. Naquele momento, achei que perderia o sonho que havia acabado de conquistar. Por fim, apesar de ter me atrasado bastante, consegui cursar uma das matérias obrigatórias da faculdade e me manter matriculada.

Ao cursar História – Licenciatura na UFF – tive a oportunidade de conhecer pessoas diferentes, mas que possuíam sonhos e interesses em comum. Construí novas amizades e novas percepções de vida. Aprendi que muitas pessoas não valorizam a profissão, por questões financeiras e ideológicas. Passei, assim como muitos amigos, por preconceitos dentro da minha família e com amigos. Porém, sempre acreditei no meu sonho, no que havia conquistado e no que poderia ser capaz de fazer, usando as ferramentas que a faculdade estava disposta a me dar. Alguns professores foram essenciais durante o processo acadêmico, destacando os professores das matérias de Licenciatura, pois foram eles que me relembraram a importância da educação e do papel da escola para a sociedade. Foi com eles que estabeleci mais um sonho: o privilégio de cursar História na UFF não deveria acabar ali, eu deveria passar a diante, principalmente para o ensino mais prejudicado pelo sistema, o ensino público.

Minha primeira atuação no ensino público foi ao estagiar em uma escola municipal no Grajaú, Rio de Janeiro. Era um estágio obrigatório, pedido pela faculdade, onde deveria observar um professor de História e ter, pelo menos, uma experiência de protagonismo histórico. Foi assim que conheci uma professora que havia feito toda a sua formação em História na UFF. Nós conversávamos bastante, ela me incentivava a seguir na carreira e compartilhava comigo as dificuldades dentro da educação pública. Foi uma excelente experiência e nós mantemos contato até hoje. Este estágio foi importante para mim, pois, mesmo sendo professora de inglês em um curso de idiomas particular e tendo cursado o ensino fundamental em uma escola estadual, foi a partir dele que pude compreender de fato as necessidades e as diferentes realidades do ensino público.

Soube do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência no meio da graduação. Pensava que não conseguiria entrar no programa por não ter experiência suficiente e por não ter um Coeficiente de Rendimento alto. Porém, quando houve a chamada no começo do período de 2017.1, achei que poderia tentar. Pesquisei sobre o programa e conversei com colegas que já faziam parte dele, isso me levou a conclusão de que o PIBID seria uma experiência importante para a minha formação como docente de História. Esta união entre as escolas públicas e a faculdade trazem benefícios a todos, principalmente aos alunos dessas escolas. Durante a entrevista para a seleção, esse pensamento se fortificou, ao ouvir relatos de outros colegas que já participavam do programa e de colegas que procuravam a mesma oportunidade que eu. Era interessante ver a vontade de todos de participar da construção de uma educação pública de qualidade e perceber que a teoria aprendida na faculdade poderia se expandir a partir das realidades vivenciadas nas escolas. Quando soube que passei no processo de seleção e que logo atuaria, tive mais uma chance de ter orgulho de mim e dos meus colegas. Refleti o quão raro é para uma pessoa da minha idade sentir orgulho de si mesma. As imposições que nos são dadas muitas vezes nos fazem desviar de nossos sonhos, mas nunca é tarde para conquista-los e se agradecer por isso. Afinal, são eles que nos trazem força e esperança para crescer cada vez mais, ultrapassar os próprios limites, iniciar novas etapas. Foi com esse orgulho que me senti preparada para começar um novo trabalho, o qual sabia que não seria fácil, devido às dificuldades das escolas públicas, mas que seria essencial para a minha vida.

Ao final do processo de seleção, soube que seria bolsista no Colégio Estadual Aurelino Leal. Conversei com alguns colegas sobre o colégio e sobre a professora supervisora, sobre os quais recebi respostas positivas. Elas se concretizaram quando fui pela primeira vez à escola. Um espaço grande, com muitas salas de aula e muitos alunos. Eu e uma colega iniciante no programa, assim como eu, ficamos impressionadas com a estrutura da escola. Apesar de ser um antigo casarão, havia muitas salas de aula, muitos corredores e áreas abertas para os alunos circularem. Essas impressões foram interessantes por corresponderem com o que entendemos ser o espaço físico ideal para os alunos. Além disso, ao conhecer a professora, percebi que nossas visões sobre o ensino de história são muito parecidas. Fiquei muito contente em saber que atuaria nesta bolsa com uma professora que vê na escola, um espaço para que os alunos se tornem agentes históricos e sociais. A elaboração de projetos com ela e com a turma que acompanho vem me mostrando o quão importante é reconstruir a imagem que a escola e a História têm para os alunos. Trazer sentido para a educação é um dos primeiros passos para se fazer uma educação de qualidade.

Fazer este memorial é reviver momentos importantes, relembrar seus propósitos e reacreditar no seu futuro. Ter passado por toda essa trajetória me faz refletir sobre o quão significativo é cada passo que você dá. Tudo o que fiz me levou ao lugar que estou hoje, e me sinto feliz com isso. As dificuldades e os poucos momentos de conquista me fazem compreender o papel que escolhi ter no mundo e me dão força para segui-lo. Ser professora de História, para mim, é ser capaz de ajudar alguém a trilhar caminhos, a perseguir sonhos, através da educação. Consequentemente, fazer parte do PIBID é ter a chance de atuar nessa ajuda, aproximando os universos do estudante, da escola e da universidade para construir uma educação melhor para todos.

 

 

 

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