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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Juliana Valladas de Sousa Pimentel
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Juliana Valladas de Sousa Pimentel foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF 2014 (Entrega do memorial – 11/2017)

 

Memorial - Relato de Experiência no PIBID/UFF

 

Nascida no Rio de Janeiro, no dia 24 de novembro de 1995, me chamo Juliana Valladas de Sousa Pimentel e tenho 21 anos. Sou estudante desde os 3 anos de idade, e de lá para cá não passei por muitas instituições, minha vida acadêmica até então foi bastante estável. Cursei a pré-escola e o fundamental I e II na mesma escola, uma escola pequena e particular perto da minha casa, localizada na zona norte do Rio de Janeiro, que se chamava Centro Educacional Sonho Dourado. Ao atingir o ensino médio, vivi os três anos dessa etapa no ensino público, no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, na zona sul do Rio de Janeiro. Desde muito cedo tenho interesse em outros idiomas, e com 16 anos comecei o curso de inglês, no Yes! Curso de Idiomas – Unidade Vila da Penha. Ao terminar o curso com 19 anos comecei a dar aulas de inglês na mesma instituição. Também aos 16 anos, através do Pronatec – programa do Governo Federal, no período do governo Dilma, para capacitar os jovens no ensino técnico – eu tive contato com o mundo do Design e da Comunicação visual, ao cursar dois módulos do mesmo curso no Senai. Foi onde eu percebi que o meu caminho não era nenhum outro que não fosse a História. E hoje, enquanto curso a minha graduação de licenciatura em História, sou bolsista do programa de iniciação à docência, PIBID, onde atuo no Colégio Estadual Aurelino Leal, situado em Niterói, sob a coordenação e supervisão respectivamente do Professor Everardo Paiva e da Professora Priscila Artte.

A História sempre me fascinou. Não sei se foram os castelos ou a derrubada deles me que conquistou. Grandes discursos e processos revolucionários me arrepiam até hoje. Uma vez li que quando estiver no momento de escolher sua carreira, é importante pensar no que mais gostava de brincar quando era criança. Eu só brincava de ser professora. Primeiro escolhi o magistério, depois a História. Sempre fui inspirada pelos meus professores, sejam eles de quais disciplinas fossem, mas principalmente no segundo ano do ensino médio, enquanto eu estudava no Colégio Estadual Amaro Cavalcante, a inspiração e a admiração pela minha professora de História me fez perceber que não haveria outro caminho mesmo.

A professora que me serviu de maior inspiração para sonhar em cursar a licenciatura em História, foi a mesma que me fez sonhar com a Universidade Federal Fluminense, ela graduou-se por essa instituição. Consegui passar para a UFF duas vezes, na primeira vez por ser menor de idade e ainda estar cursando o ensino médio não pude ir. E antes de passar pela segunda vez, passei para licenciatura em História na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Lá cursei um período. No começo do semestre de 2014.2, passei novamente e finalmente comecei a cursar licenciatura em História UFF. Ao chegar na UFF pude perceber diferenças sociais gritantes em relação à UFRRJ, a minha turma de licenciandos na UFF era majoritariamente branca e masculina, e 80% dela provinha de escolas particulares. Na UFRRJ, a minha turma era muito mais democrática etnicamente, no gênero e a maior parte da turma provinha de escolas públicas, sejam elas federais ou estaduais.

Na Universidade Federal Fluminense eu me encontrei, sinto que seja o meu lugar. Hoje estou cursando o 6º período, e não me decepcionei com as expectativas que tinha antes de conseguir estudar nessa instituição. Nesse tempo passei pela greve de 2015, que teve a duração de quatro meses. Eu já tinha vivenciado duas greves no meu ensino médio, em colégio estadual, mas nada parecido com a greve da Universidade. Foi um período difícil tanto dentro da instituição quanto na situação política do Brasil, a primeira presidenta mulher eleita estava sofrendo um processo de impeachment que resultou num golpe da casta política do país. Após esse momento, a Universidade vem sofrendo ainda mais cortes de verbas, e a profissão do professor de História tem sido ameaçada. Poder cursar uma graduação é um privilégio. Lembro-me até hoje de quando fui me matricular acompanhada do meu pai, quando a secretaria da coordenação de curso nos entregou em mãos a declaração de matrícula, meu pai chorou. Ele próprio só conseguiu terminar seu ensino médio e cursar um técnico em agricultura após o meu nascimento, quando ele já tinha mais de 40 anos. Eu sou a primeira, por parte da minha família paterna, a cursar uma graduação numa Universidade pública.

Para mim a História é mais que um amor, é uma necessidade. O papel social do historiador e do professor é enorme e fundamental, as carências do nosso povo são estruturais e partem de décadas, séculos de descaso. A realidade da profissão do professor é dura, cada vez mais existe a precarização do trabalho e o desencantamento acerca do magistério. Dentro da própria Universidade há quem desencoraje o aluno a escolher pelo magistério, eu me sinto muito privilegiada de conviver e ser aluna de muitos professores apaixonados pelo o que fazem e com uma clara consciência do seu papel social. Me senti inspirada quando ainda estava na escola e continuo me sentindo inspirada todos os dias por muitos de meus professores na UFF.

Sempre recebi muito apoio da minha família para seguir e escolher a profissão que me fizesse feliz. Minha mãe sempre me disse que eu seria professora, mesmo quando no final do meu ensino fundamental eu estivesse muito desestimulada, sem bons exemplos ao meu redor e sem esperança sobre a minha futura carreira. Quando enfim escolhi a licenciatura em História e consegui passar para a UFF, fui parabenizada e ainda mais apoiada. Meus familiares e amigos sempre dizem que não conseguem me ver fazendo outra coisa e o quanto me veem feliz no caminho que estou seguindo.

Conheci o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID quando cursei um período na Universidade Federal Rural do Rio Janeiro. Na primeira semana teve uma apresentação do programa por parte dos professores coordenadores, para os calouros que chegavam naquele momento à instituição. Ali, me vi completamente apaixonada pelo projeto. Me lembro que antes de realmente ingressar na UFF procurei saber se era um projeto apenas de uma Universidade ou algo federal, felizmente era federal o que me mostrou que eu teria a oportunidade de participar do mesmo estando na UFF. Foi demorada a espera por um processo seletivo, creio que desde que entrei na UFF até hoje eu perdi alguns deles por falta de informação, e então quando soube do processo seletivo de 2017 me empenhei para conseguir o que tanto almejei. Dentre a documentação requerida havia o pedido por uma carta de apresentação, eu recorri a alguns amigos meus do PIBID - História da Rural para saber como eu poderia começar a escrever ali os meus interesses no projeto. Após ouvir conselhos um pouco de um, um pouco de outro, decidi que escreveria sobre o que sinto de mais genuíno sobre a profissão que escolhi.

No dia da entrevista eu estava bastante nervosa, na minha vez de brevemente me apresentar e dizer o motivo pelo qual eu estava me candidatando a uma vaga no PIBID, a minha voz não obedecia aos meus pensamentos. Falei o pouco que consegui e rezei para que pudesse ser escolhida. Fui escolhida. E uma das melhores notícias foi saber que o meu coordenador seria um dos professores que mais me inspiram na minha graduação. Na primeira reunião soube que seria bolsista do Colégio Estadual Aurelino Leal, localizado na zona sul de Niterói. Foi acalentador reconhecer ali naquele momento de tantas novidades o rosto de uma amiga de algum tempo, sobre a professora supervisora eu só escutei maravilhas de seus já antigos bolsistas, e quando comecei o meu trabalho pude perceber que tudo aquilo era verdade. O comprometimento da professora com o seu trabalho, os seus alunos, os seus bolsistas e estagiários é inspirador e encorajante. O Colégio Estadual Aurelino Leal me surpreendeu num bom sentido, o espaço é amplo e de uma construção muito bonita, porém não muito bem cuidada, os alunos são acolhedores e algo que me chamou muita atenção foi o fato deles não usarem como uniforme as camisas do estado do Rio de Janeiro, eles usam blusas com o nome do colégio. Essa questão me fez refletir se esse costume tem relação com alguma sensação de pertencimento dos alunos com aquele ambiente da escola e a comunidade em si. O projeto que venho acompanhando já estava em curso quando entrei como bolsista, é sobre As Mulheres na História, o que traz a importância de conhecer mulheres que foram figuras importantes na construção da História e seus processos, além de mostrar aos alunos uma nova forma de ver o conteúdo de História escolar.

Hoje, enquanto aluna de graduação em licenciatura em História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do PIBID, aprendo cada dia mais seja na pesquisa ou na prática, e principalmente quando ambas estão unidas. Ao escrever esse memorial, pude pensar sobre toda a minha vida acadêmica até aqui e sobre como cada passo dado me fez enxergar a importância de seguir o caminho que me realiza. Acredito que ser uma professora realizada e apaixonada pelo ofício faz toda a diferença na efetuação do trabalho. Pretendo com a História mostrar aos meus alunos a grandeza de cada ação dos seres, e leva-los a pensar e refletir sobre suas vivências, suas realidades, suas dificuldades e possíveis soluções, para que tenhamos bons cidadãos, conscientes, menos desiguais e agentes de seus próprios caminhos.

 

 

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