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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Klauder Vicente Quevedo Gonzaga
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Klauder Vicente Quevedo Gonzaga foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF – 2014 (Entrega do memorial – 11/2017)

 

Resumo Biográfico:
Estudei nas escolas: Externato Jesus Pessanha, Curso Gonçalves Ledo, Colégio Municipal Irene Barbosa Ornellas, Instituto Educacional Jardim Catarina, Colégio Municipal Anísio Teixeira, Escola Municipal Nicanor Ferreira Nunes, Colégio Estadual Professora Suely Motta Seixas, todas essas escolas localizadas na região do Jardim Catarina e Santa Luzia em São Gonçalo.

Atividades profissionais:
MC de Rap em eventos como Ponte Rio Niterói, Batalha do Conhecimento, Turbilhão Hip Hop e na banda Lado A.
Recenseador no IBGE de 2011 a 2013.
Trabalhei também realizando oficinas de rap nas escolas em parceria com o SESC, em produção de eventos e edição de vídeos e já substitui uma professora que ficou de licença em uma escola. A Escola da Tia Suzana que se encontra na Alameda, no bairro do Fonseca em Niterói.

 

I – PRIMEIRO EIXO

Motivações/intenções - o ingresso no PIBID: razões do seu interesse em participar do programa. Sua relação, antes do ingresso, com a educação básica pública.
Antes de entrar no PIBID, já realizava oficinas utilizando a linguagem do Hip Hop junto a outros alunos da graduação em algumas escolas da rede pública estadual, inclusive em municípios da região dos lagos como Saquarema e Araruama.

Além de ser oriundo da rede publica de educação, sou músico, faço RAP e a linguagem do RAP sempre me trouxe muito interesse pela educação e pela história e antes mesmo de ingressar na universidade, ja executava atividades usando essa linguagem em escolas de São Gonçalo, como Clélia Nanci, Nilo Peçanha e Suely Motta Seixas, sendo essa a ultima, a minha escola do ensino médio. Quando em 2013 deixei de trabalhar no IBGE, tinha como objetivo me dedicar mais a arte, a educação e a minha formação, comecei a executar algumas oficinas junto a outros amigos da graduação através do Coletivo Cultura Negra na Escola e o PIBID me trouxe a oportunidade de executar aquelas atividades de forma continua em um único local, desde meu ingresso no programa já organizei diversas oficinas, batalhas de rima e atividades usando o RAP como fio condutor para discussões, assim como fazia quando construí cotidianamente as atividades do coletivo.
Minha motivação ao entrar no programa era talvez poder executar projetos utilizando a Cultura Hip Hop através do RAP com o objetivo de fazer com o que essa linguagem pudesse ser um diferencial na formação de outros alunos da rede pública, como foi na minha, talvez um fator extremamente decisivo na escolha do curso, no estímulo a leitura, no estímulo a busca pelo conhecimento, ao contato com linguagens diferentes da que eu estava acostumado no meu cotidiano escolar e no meu bairro.

 

II – SEGUNDO EIXO

Realização de uma oficina de discussões acerca das relações étnico-raciais, a partir da cultura, sobretudo do RAP e das músicas dos Racionais MCs. Utilizamos slides, músicas em áudio e imagem, fazendo-os refletir baseados nas suas percepções e em torno das questões que propostas a fim de provocar o debate e o exercício da reflexão. Realização de uma batalha de rimas tendo como o tema o Dia da Consciência Negra. Houve um desafio temático de rimas com os assuntos propostos pelos próprios alunos. Nesse sentido, buscamos desenvolver temas já estimulados na monitoria e nas oficinas. Os temas propostos foram racismo, escravidão, Nelson Mandela, África, violência policial e outros temas que foram discutidos ao longo do ano. Além disso, tivemos participação de alunos apresentando também sua arte.

Construí junto aos outros bolsistas e a professora Flávia um complemento ao conteúdo “Guerra Fria” através de uma aula sobre os conflitos periféricos no mundo, com ênfase maior no continente africano e nos países de língua portuguesa, sobretudo em Angola. Objetivou-se, a partir dessa atividade, complementar o conteúdo.

 

III – TERCEIRO EIXO

Apresentei nos últimos dois anos trabalhos na Semana Acadêmica e na MID.
Nesse sentido apresentei os resultados do que vinha propondo e está registrado no segundo item. Nesse sentido utilizamos as categorias raça, classe, cor e etnia propostas por Antônio Sérgio Guimarães em “Como Trabalhar Raça em Sociologia”, utilizei algumas articulações desses conceitos com algumas músicas dos Racionais MCs como Nego Drama, Racionais Capítulo 4, versículo 3 e essas reflexões fizeram com que eu escolhesse esse tema para fazer meu projeto de monografia, onde sigo refletindo sobre esses temas e fazendo essas articulações.

Nesse tempo também refleti sobre democracia, gênero, muitas vezes através de autores como Boaventura de Souza Santos, Paulo Freire (Esse discutimos quase nada), Pierre Bourdieu, Nestor Canclini, um ano de experiência no coletivo cultura negra na escola onde fiz diversas oficinas em escolas onde debati diversos autores relacionados à Diáspora africana no Brasil e nas Américas como Stuart Hall, Paul Gilroy, António Sergio Guimarães, este último me trazendo conceitos interessantes para que eu pudesse debater cor, raça, etnia, racismo. Já faço os debates em torno do controle do corpo, sobre a cultura letrada há alguns anos por estudar e observar o RAP, já estava na escola antes de estar na universidade, nos meus tempos de ensino médio e um pouco depois, quando não estava na escola, estava na rua. Visto que sou chamado de professor por muitos MCS, dentre eles CT (1 Kilo), Choice (Pinneaple), LT, Iori (Delta), Aika, Fael, Mamut, Big Eddy, Dante, Thais Bueno, Dejah Siqueira, Dvasto55 e diversos outros que ainda tenho contato na rua, onde sou chamado de professor por todos.

Produzi duas atividades com as turmas do terceiro ano, nas quais debati a questão do pós-abolição, as heranças da escravidão e o processo de resistência ao racismo e ao seu legado. Optei por não construir uma atividade solta, encaixamos essa atividade, eu, junto a professora Flávia Cordeiro dentro dos conteúdos Final do Império/Primeira Republica, buscando criar junto aos alunos, suas realidades, a abordagem da professora uma atividade que pudesse debater os direitos humanos, sobretudo a questão racial relacionando ao conteúdo proposto no currículo mínimo. Do mesmo jeito construí outra atividade com as turmas de segundo ano, quando o conteúdo era iluminismo e ideias políticas do século XIX em geral. Busquei neste sentido construir um debate a partir de algumas leituras que tive nas ultimas matérias de História na graduação sobre a relação do capitalismo e do liberalismo com a escravidão a partir da metade do século XIX visto que no momento em que a classe trabalhadora aumenta na Europa, aumenta também a mão de obra escrava em Brasil e Cuba, além de se acirrar o ódio e as hierarquias raciais no sul dos Estados Unidos, uma contradição de um mundo onde se falava em liberdade, igualdade e fraternidade do ponto de vista político, econômico e social. A partir deste debate, acabamos chegando aos debates relacionados as reformas trabalhistas e da previdência nos dias atuais, sobre a divisão social e racial do trabalho nos dias atuais e tivemos alguns exemplos de alunas e alunos que trabalham e eles colocaram seus pontos de vista. Achei interessante que muitos ali, mesmo trabalhando em subemprego como atendentes de telemarketing, tiveram dificuldade em construir essa relação histórica e um paralelo entre os termos gerais das relações de trabalho mas em geral, naquele momento conseguimos produzir um debate de ideias e que em grande medida trouxe algum sentido as aulas de História, sobretudo por conta da participação de todos.

 

IV – QUARTO EIXO
Acho que os principais debates que o programa pode contribuir em minha formação e concepção de docência foram os da violência na escola e o da democracia e possibilidades da construção na mesma no espaço escolar considerando a realidade local e o dia a dia, sendo que a possibilidade dessa construção e da noção do público no espaço escolar só pudesse ser construída a partir de muito debate, muita troca de ideia, muito exercício de alteridade.
Outra reflexão para a minha formação e concepção foi a impossibilidade de repetir as fórmulas, cada turma tem suas particularidades, problemas e necessidades e muitas vezes a linguagem, abordagem e até perspectiva mudam, muitas vezes no mesmo dia.

 

Além disso, existe uma extrema necessidade de estarmos sempre nos atualizando de acordo com as demandas que surgem a cada ano, demandas sociais, culturais, os problemas políticos que acabam interferindo no cotidiano trazendo problemas como a evasão escolar, o desinteresse e as demais dificuldades, como pude observar nesses três anos de PIBID.

 

 

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