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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Rodrigo de Castro Lourenço
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Rodrigo de Castro Lourenço foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF 2014. (Entrega do Memorial – 11/2017)

 

Memorial - Relato de Experiência no PIBID/UFF

 

Resumo Biográfico:

Meu nome é Rodrigo de Castro Lourenço, nasci há vinte e cinco anos, no dia dois de Novembro, na cidade de São Gonçalo. Onde cresci, passei minha juventude, estudei e aprendi quase tudo que sei hoje. Estudei em escolas pequenas, de bairro. As vezes era no quintal de uma vizinha ou de uma amiga da minha mãe. Meus pais não tinham dinheiro para pagar grandes escolas e se não fossem meus avós, nem nessas eu poderia ter estudado. Apesar de particulares, nem se comparam com as escolas que eu vejo hoje em Niterói e no Rio, ou nas escolas que a classe média alta estuda. Em São Gonçalo, podemos dizer que nem as escolas particulares são tão boas assim, imaginem as públicas. Porém, no segundo grau, meu avô decidiu juntar os recursos que tinha para me por e uma escola melhor. Com isso, conclui meu ensino médio em uma escola grande na cidade (Colégio Santa Mônica). Que sem dúvidas me possibilitou entrar em uma universidade pública, coisa que meus pais nunca tiveram oportunidade.

Cresci dividido entre a simplicidade de ser e a ambição de ser mais. Meu pai era peixeiro e minha mãe, durante muito tempo foi dona de casa. Na oitava série, quando a professora me perguntou o que eu queria ser quando crescer, eu disse que queria ser peixeiro, igual meu pai. Não conhecia realidade melhor, e via na felicidade da nossa família, o que eu desejava no futuro. Porém, ao saber disso, meu pai brigou comigo. Ele disse que eu deveria querer ser mais. Que eu deveria fazer uma faculdade, ganhar melhor, “ser alguém na vida”. Pois apesar de eu achar que éramos felizes, meu pai não via futuro na realidade que vivíamos e queria que eu pudesse ascender socialmente, para ter uma melhor qualidade de vida.

Quando decidi fazer história, foi uma decepção para minha família. Eles queriam que eu fosse engenheiro ou advogado. E eu entendo eles, o esforço para me dar uma educação melhor e melhorar a minha vida, foi hercúleo. Então a esperança do retorno também era grande e eu sabia disso. Porém, a licenciatura me seduziu, como a serei seduz o navegante. Eu vi na minha educação uma possibilidade de ascender não só a mim, mas para outras pessoas. Eu fiquei tão grato pelo que os meus professores fizeram por mim, que eu queria fazer isso por outros.

Queria ajudar outros Rodrigos, Rogérios, Marias ou Rosanes. O poder de mudança que a educação tem na vida dos alunos é tamanho que valia mais a pena para mim, trocar conhecimentos e mudar minha vida e a dos alunos através da educação, do que ganhar dinheiro em outras carreiras. Por isso, conhecendo meus objetivos, minha família aceitou que eu estudasse história.

 

I – PRIMEIRO EIXO

Motivações/intenções - o ingresso no PIBID:

Durante a maior parte da minha graduação, eu trabalhei em museu. O contato que eu tive com as escolas públicas foi a partir dai. Elaborei e concluí projetos com escolas públicas que foram um sucesso, não só para o museu e para mim, mas também para os alunos. O retorno foi incrível e a troca foi enriquecedora. Os preconceitos negativos que eu tinha com a escola pública foram quebrados nesse momento. Mas não era suficiente.

Minha inserção nessa realidade ainda era muito superficial. Algumas vezes umas turmas de alunos iam ao museu, outras vezes eu ia nas escolas. Mas eram sempre encontros breves e pouco aprofundamento. Eu percebi que apesar de positivo, ainda não era de fato uma realidade de sala de aula, uma realidade de professor. E apesar de estar cursando as turmas de educação na faculdade, inclusive PPE, nada disso era suficiente para me preparar para o que viria. Conclui então, que mesmo com tudo isso, e anos de faculdade eu não estava preparado para a sala de aula, era preciso mais, era preciso PIBID.

Já tendo ouvido algumas experiências positivas de amigos no PIBID, decidi me candidatar. Seria o que faltava para completar de fato a minha graduação em licenciatura. E por sorte eu fui aceito no fim de 2017. Não tendo completado nem um ano de PIBID, eu posso afirmar que era exatamente o que faltava para a minha formação: Vicência, realidade, sala de aula, contato com os alunos. Tudo que falta da universidade e que é fundamental para a formação de qualquer professor. Por em prática, o que aprendemos na graduação. Descobrir que os alunos não são potes vazios a espera que nós os preenchamos com conhecimento. E sim, são repletos de conhecimentos e a sala de aula é uma grande troca onde o aprendizado é mútuo. Não basta isso ser falado na teoria, é preciso viver. Por isso na minha opinião, o PIBID deveria ser para todos os alunos da licenciatura.

II – SEGUNDO EIXO

Atividades desenvolvidas no PIBID:

Apesar de não estar muito tempo no PIBID, já me sinto pertencente ao grupo. Iniciamos um projeto recentemente que se chama “Somos alguém na história: Autoria e protagonismo na sala de aula”. E pra ser sincero eu to extremamente feliz, não poderia ser melhor. O projeto é sobre a história de vida dos alunos, como protagonistas da sua história. Levanta a autoestima deles e os ajuda o se reconhecerem como participantes da história, agentes, protagonistas. Coisa que eles não percebiam.

Tudo começou com a exibição de um filme norte americano, que se chama, “Escritores da Liberdade”. O filme consiste na história de uma professora do ensino público que não quer desistir dos seus alunos, considerados os piores da escola. Ela pede para que cada um deles escreva suas histórias em cadernos que ela havia comprado. E caso eles quisessem que ela lesse, que deixassem seus cadernos em um armário na sala. Em pouco tempo, o armário já estava lotado, e ela leu um por um, conhecendo bem a história dos seus alunos, suas frustrações, problemas e realidades. Isso aproximou muito mais a professora deles, a fez entender que existia muito mais além da sala de aula, muito mais além do conteúdo comum, tradicional. E que se ela quisesse realmente ajudar eles, ela precisaria fazer diferente.

Não foi contar o final do filme, aconselho que veja para que entenda melhor. Mas foi a partir dessa ideia que nos inspiramos para montar nosso projeto. Decidimos fazer parecido, cada aluno levou uma pastinha de plástico, para guardar suas atividades. Sentados em roda, conversamos sobre diversos assuntos, como a própria realidade escolar. Sobre o que eles querem que seja diferente na escola, o que gostam ou não gostam. Depois escrevem suas ideias em papéis e colocam em uma caixa que fizemos. Toda semana propomos atividades diferentes, onde aos poucos eles vão escrevendo sobre suas vidas e seus desejos.

Em pouco tempo, já temos histórias incríveis dos nossos alunos. Lendo elas entendi que para ser professor, é preciso muito mais que conhecimento histórico, precisamos conhecer nossos alunos, e fazer com que eles se conheçam também e entendam que são protagonistas da história. Eu não poderia estar mais feliz com o projeto que estou participando e vejo os resultados toda semana quando encontro os alunos.

 

 

 

III – TERCEIRO EIXO

Relação Escola/Universidade no PIBID:

O que eu mais trabalhei na graduação foi história oral, narrativas de vida, história pública e cinema documentário. Não sei se por acaso ou por influência própria da minha formação, o projeto que eu ajudei a criar e participo no PIBID tem como influência todos esses referenciais. Eu acredito que os conhecimentos da universidade e da escola são diferentes, mas estão ligados. Tudo o que aprendi sobre essas teorias eu aplico nas nossas atividades, mas de maneira diferente. Até por que, a sala de aula é uma troca, então apesar de levar um conhecimento, ele se uni ao conhecimento dos alunos e se torna algo novo. Se torna o conhecimento da sala da aula. Único, complexo e simples, porém, impossível de ser ensinado sem que se viva a sala de aula.

Por isso, eu repito o que eu já disse antes, todos na licenciatura deveriam participar do PIBID. Ele é exatamente a maior expressão da relação da universidade com a escola. Pois nós, graduandos, estamos levando para o ensino médio, os conhecimentos que ainda estão frescos na nossa mente. Diretamente da academia, diretamente da fonte. E trocamos ele com os alunos, onde também aprendemos seus conhecimentos e o levamos para a Universidade. Assim, com o PIBID a escola tem um pouco mais da universidade e a universidade tem um pouco mais da escola. E dessa equação, os resultados só podem ser positivos.

IV – QUARTO EIXO

Reflexões pessoais sobre a docência:

Docência para mim é troca. Troca de conhecimentos, troca de experiências, troca de afeto. Eu me relaciono com os alunos como igual. E estou muito feliz que a Priscila está fazendo nossas atividades em roda. Isso reforça muito o trabalho que estamos tentando fazer. Tudo fica mais fácil quando nossa equipe trabalha em conjunto e com ideias semelhantes. Com certeza, esse é o nosso caso. Acho que eu não poderia estar em uma equipe melhor no PIBID. Aprendemos com a vida e com a história dos nossos alunos e eles aprendem conosco. O círculo, faz com eles se vejam e faz com que nós e o professor, estejamos iguais aos alunos. Da sentindo de pertencimento, pois todos fazemos parte do círculo. Pode não parecer nada, mas o formato diz muito sobre quais são nossas intenções e como os alunos veem a sala de aula.

Hoje, eles se veem, se enxergam e nos veem mais como iguais. Espero que até o fim do meu trabalho no PIBID, eu aprenda muito com eles e eles vejam o quanto o conhecimento deles é importante. Verdadeiros protagonistas da história que são.

 

 

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