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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Thamiris Altoé Roque
Entrevistador: Memorial - PIBID
Tipo: história de vida
Duração:
Local:
Data: 11/01/2017
Sumário

Thamiris Altoé Roque foi bolsista do Pibid no Subprojeto História UFF 2014 (Entrega do Memorial – 11/2017)

 

Memorial – Relato de Experiência no PIBID / UFF

Eu, Thamiris Altoé Roque, 25 anos, nascida em 06 de fevereiro de 1992, em São Gonçalo, estudei até a alfabetização no Colégio Particular Estrelinha Mágica, e durante todo o ensino fundamental e médio estudei na rede pública de ensino, na Escola Municipal Virgínia de Seixas Cruz e no Colégio Estadual Dr. Rodolpho Siqueira. Possuo formação avançada em Inglês e formação básica em Alemão, sou matriculada no curso de História – titulação Licenciado -, bolsista atuante no Colégio Estadual Aurelino Leal, sob a supervisão de Priscila Artte e coordenação de Everardo Andrade, e venho por meio deste memorial apresentar a minha trajetória como bolsista do Projeto Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).

Quando ingressei na UFF, no segundo semestre de 2012, o meu objetivo principal era me tornar uma professora de História, pois era o meu desejo desde os 16 anos ainda como aluna do Ensino Médio. Conjunto ao meu ingresso na universidade obtive uma “surpresa”: as disciplinas do ciclo básico não abordavam discussões sobre educação. Foram 4 semestres sem obter qualquer reflexão acerca da História enquanto disciplina escolar. Certamente que teoria, historiografia, os conteúdos específicos da disciplina e a pesquisa são fundamentais, afinal o professor é um pesquisador; mas eu estava incomodada por me sentir afastada do ambiente escolar. Foi no 5º período que obtive o meu primeiro contato com as disciplinas de educação – psicologia da educação, didática, OEB, e PPE I –, as quais foram me introduzindo no universo educacional. Estudei grande parte da minha vida em escolas públicas, e presenciei situações que me fizeram criar determinados estereótipos, e com essas disciplinas eu pude começar a desconstruí-los. Compreendi que os alunos possuem suas características especificas de aprendizado, que um aluno considerado “bagunceiro” é tão inteligente e produtivo quanto aquele considerado o “melhor da turma” – assim como aprendi que essas distinções não devem ser feitas por nós professores. Ao me aproximar de autores como Paulo Freire e Dermeval Saviani, Circe Bittencourt, Maurice Tardif, Clermont Gauthier, Maria Auxiliadora Schmidt, Jörn Rusen, entre tantos outros, pude mudar o meu olhar sobre a escola e sobre o ensino, principalmente da escola pública. Compreendi que o ensino de História precisa ser palpável, ou seja, precisa fazer sentido para os alunos dentro de suas experiências de vida; também compreendi que não há uma “transmissão” de conhecimento – uma reprodução do conteúdo apreendido na universidade – mas sim uma troca, um “compartilhar” conhecimento entre professores e alunos.

Apesar de toda a contribuição dessas disciplinas para as minhas primeiras reflexões sobre o ensino de História e sobre a escola, ainda sentia que era necessário ter uma experiência mais ativa e concreta. Soube da seleção do PIBID no final de 2014, e me interessei não só pela bolsa, que me ajudaria - e ajuda - bastante a custear a minha permanência na universidade, mas principalmente por enxergar nele a oportunidade de dar meu primeiro passo rumo a minha profissão - foi com o PIBID que eu realmente me enxerguei e fui reconhecida como professora. Costumo dizer que todo licenciando deveria passar por esse projeto, porque é uma oportunidade enriquecedora para a nossa formação profissional, e, com toda certeza, pessoal.

Iniciei minhas atividades como bolsista do PIBID em fevereiro de 2015 no Colégio Estadual Cizínio Soares Pinto, sob a supervisão do professor Marcos André Mahaut e coordenação do professor Everardo Paiva de Andrade. Fui acolhida pelos colegas bolsistas do CECSP, Elton Santiago, Monique Rabelo, Natália Ceolin e Yuri Nazário, companheiros fundamentais na troca de ideias e no desenvolvimento dos projetos na escola.

Durante todo o ano de 2015 fiquei responsável por duas turmas do 7º ano do Ensino Fundamental, ambas no turno da tarde. Meu supervisor, apesar de ter seus métodos de aula, sempre deu liberdade para que nós bolsistas pudéssemos criar novas possibilidades de aula dentro da atividade de “Monitoria”. Observei que muitos alunos das turmas em que eu atuava reclamavam bastante de copiarem a matéria do quadro, assim como se recusavam a realizar as tarefas propostas e apresentavam dificuldade de interpretação e de expressarem opiniões. Conversando com o meu supervisor resolvemos optar pela produção de materiais didáticos, como textos sobre os temas das aulas sempre acompanhados de imagens, e trabalhar junto com os alunos. Conseguimos complementar o livro didático, desenvolver a capacidade de leitura e de interpretação de imagens por parte dos alunos, estimular debates sobre os conteúdos, na qual contribuiu para o poder de reflexão e senso crítico. As atividades sobre as aulas e conteúdos envolveram muitas vezes jogos, como cruzadinhas, caça-palavras, desenhos e pinturas, mas também perguntas que envolviam muitas vezes a opinião dos alunos a respeito dos temas abordados nas aulas fossem eles do conteúdo programático ou questões atuais e do cotidiano.

Dentro do “ORE – Observatório das Relações Étnico-Raciais na Escola” – desenvolvi, em parceria com a bolsista do CEGUIB, Carolina Oliveira, a “Oficina de Reggae – História e Filosofia” em homenagem a Semana da Consciência Negra. Através da História do Reggae e da apresentação de seus principais artistas conseguimos abordar sobre a escravidão, colonização, racismo, desigualdade social e luta por direitos, além do reconhecimento da música como meio de manifestação cultural e política. Percebi que os alunos ficam muito empolgados com atividades que são realizadas com instrumentos audiovisuais. Vale ressaltar que havia a dificuldade de desenvolver esse tipo de atividade porque as salas de aula não possuem retroprojetores, e a sala de vídeo nem sempre contava com toda a estrutura necessária para tal. Esse problema, que se estende a outros problemas como as salas sem ar condicionados, falta de merenda, falta de materiais escolares, etc, me fez perceber as dificuldades diárias enfrentadas pelos alunos e professores. Portanto, por mais que tenhamos ideias de aulas mais atrativas e interessantes, infelizmente nos deparamos com barreiras que inviabilizam que esse tipo de aula aconteça mais vezes.

Para o ORE também realizei em parceria com meus colegas bolsistas, meu supervisor e a professora de artes do CECSP, Regina Rodrigues, a oficina: “450 anos do Rio: favelização, identidade coletiva, memória e pertencimento (relação passado/presente no ensino de História no C.E Cizínio Soares Pinto)”. De segunda a sexta-feira ocorreram seminários que envolveram os alunos do 7º ano e da NEJA. No caso do 7º ano, que eram as turmas de minha responsabilidade, realizei o seminário “O funk como manifestação cultural da cidade” com a professora Regina Rodrigues. Ao levarmos a história do funk, através de imagens projetadas no slide e vídeos clipes, desde a sua fundação nos EUA até o funk carioca, conseguimos debater a ideia de pertencimento à cidade - tema crucial do projeto – além de questões como favelização, identidade coletiva e representatividade feminina. Através dos relatos dos alunos – que envolviam preconceito racial e desigualdades sociais – pude compreender como eles se enxergam dentro da sociedade e o quanto a educação pode contribuir para que eles se entendam como sujeitos históricos, que podem atuar no meio em que vivem em busca de uma nova realidade e principalmente na conquista de direitos.

Quando o professor Marcos estava trabalhando o conteúdo sobre a Conquista do território brasileiro, me lembrei das aulas na universidade com a professora Elisa Garcia sobre o protagonismo indígena na História e da Lei 11.645/2008 que estabelece que a história da África e dos africanos, dos indígenas no Brasil, a cultura afro-brasileira e indígena, assim como a contribuição desses dois grupos para a formação da sociedade nacional devem fazer parte do conteúdo curricular. Portanto, refleti como poderia contribuir para trazer a agência indígena no período da Conquista e também a desconstrução de estereótipos sobre os povos indígenas do Brasil. O resultado foi a exibição do filme “Vermelho Brasil” (2014), que se insere na atividade “Cineclube na Escola”, seguido de debate com os alunos. A proposta era a compreensão da relação entre europeus e indígenas na época da Conquista pela perspectiva indígena, evidenciando seu protagonismo e a diversidade dos povos nativos, além de discutir qual o papel das produções cinematográficas na construção de um imaginário social. A resposta dos alunos foi positiva, pois conseguimos refletir sobre a representação dos indígenas no filme relacionando com a desconstrução dos estereótipos – por exemplo, o índio como um ser exótico que vive na selva – ainda muito presentes em nossa sociedade.

Em paralelo ao meu trabalho com as turmas do 7º ano, contribui com os meus colegas bolsistas, que atuavam com as turmas da NEJA, na atualização constante do Blog PIBID História – CECSP com os conteúdos trabalhados nessas turmas, além de notícias sobre ENEM e vestibulares. Com o Blog os alunos faziam download de todos os conteúdos e atividades, que também serviam como material complementar ao livro didático, além de postarem suas dúvidas e solicitarem novos conteúdos.

Com o PIBID obtive a oportunidade de participar pela primeira vez da Semana Acadêmica da UFF, na qual apresentei junto com meus colegas do CECSP os projetos “450 anos do Rio: favelização, identidade coletiva, memória e pertencimento (relação passado/presente no ensino de História no C.E Cizínio Soares Pinto)”, já citado anteriormente, e “Nova EJA: Ciências Humanas e suas tecnologias”, que consistiu na produção por parte dos bolsistas de uma apostila com conteúdo curricular de História que complementava o livro didático da NEJA, no II Encontro Anual do PIBID UFF. Na minha perspectiva participar do Encontro foi essencial, pois conhecemos outros projetos dos colegas bolsistas, inclusive de outros cursos, compartilhamos nossas dificuldades e principalmente trocamos ideias e propostas para melhorar e garantir a qualidade do PIBID nas escolas públicas que participam do projeto.

Embora 2015 tenha sido o meu começo no PIBID, foi um ano muito produtivo e de muito aprendizado. O contato direto com os alunos do 7º ano me possibilitou conhecer suas principais dificuldades e suas habilidades. São crianças curiosas e que tem sim, vontade de aprender e de trocar experiências, basta o professor ter essa mesma vontade. Me lembro do aluno, que chamarei de J., que no início do ano se mostrava relutante em prestar atenção na aula e em fazer as atividades, aos poucos foi confiando no nosso trabalho e no nosso compromisso com ele. Antes das férias de julho ele me disse: “Professora, esse ano eu passo para o 8º ano. Pode acreditar”. Me propus a ajuda-lo nesse caminho, mas deixei claro que ele era o principal responsável para que essa conquista acontecesse. No final de 2015 ele me mostrou o resultado de sua prova e disse com um sorriso no rosto que havia passado para o 8º ano. Senti que meu dever foi cumprido! É claro que o J. foi a exceção, nem todos seguiram o mesmo caminho. Compreendi, portanto, que o professor não pode “salvar” vidas, mas pode plantar boas sementes.

Finalizei as minhas atividades no CECSP com ânimo para 2016. Entretanto, considero que esse foi o ano mais difícil para o PIBID. Diante da conjuntura política do nosso país o projeto sofreu com ameaças de encerramento, de cortes de bolsistas, e sem dúvida esse clima tenso acabou me deixando bastante assustada e com muitas incertezas a respeito do meu futuro no PIBID. Devido essa “crise”, o projeto sofreu com a perda do Colégio Estadual Cizínio Soares Pinto, e confesso que foi difícil me despedir dos alunos. Fui remanejada para o Colégio Estadual Aurelino Leal, que, inserido na conjuntura de políticas arbitrárias do governo contra os professores, a educação e servidores públicos em geral, tinha a maior parte de seus professores em greve, inclusive a minha atual supervisora, Priscila Artte. A greve era legítima e tinha o apoio dos bolsistas, afinal somos futuros professores. Logo, participar do PIBID no meio deste momento tão difícil para os profissionais de educação me trouxe uma dimensão real dos obstáculos enfrentados na nossa profissão.

Terminada a greve, pouco antes das férias de julho, iniciei as minhas atividades no CEAL. Na reunião de planejamento com a supervisora Priscila Artte, e os colegas bolsistas, Alexandre Gubani, Caroline Araújo, Ramon Peixoto, Caio Gatto e Wagner Hartje, ficaram resolvidos os planos de ação para o retorno da greve. Todos ficaram envolvidos com as turmas de 3º ano, auxiliando a nossa supervisora nas aulas de reposição. Continuamos com os estudos dirigidos, com os trabalhos sobre biografias e trazendo a participação das mulheres nos conteúdos programáticos – projetos já desenvolvidos na escola antes da minha chegada, e que estavam apresentando bons resultados.

Ao contrário dos alunos do 7º ano do CECSP, os alunos do 3º ano são mais independentes. Muitos já trabalhavam e por vezes não podiam comparecer as atividades em outro turno; os que estavam dispostos a fazerem o ENEM e o vestibular sempre procuravam sanar dúvidas sobre o conteúdo e também sobre como é a vida universitária. Me sentia feliz ao ver os alunos da escola pública acreditando em suas capacidades intelectuais, buscando uma faculdade, seja de medicina ou de licenciatura em História – casos de duas alunas da turma –, ou seja, ocupando o espaço que é deles por direito.

Com os colegas bolsistas, Alexandre Gubani e Caroline Araújo, apresentei o projeto “História das mulheres: alternativas pedagógicas ao sexismo nos livros didáticos”, no III Encontro Anual do PIBID UFF, que consistiu na elaboração de oficinas pedagógicas com música, filmes, fontes históricas, debates que apresentavam a História das Mulheres e dos estudos de gênero, buscando trazer o protagonismo das mulheres dentro dos processos históricos e desconstrução de uma história androcêntrica ainda muito presente nos livros didáticos e também no meio acadêmico. Nesse Encontro colegas de outros cursos se mostraram bastantes interessados em nossas atividades, consideraram a importância de discutirmos sobre a participação das mulheres na História e também sobre a representação da mulher em nossa sociedade.

Também apresentando o projeto “História das mulheres: alternativas pedagógicas ao sexismo nos livros didáticos”, junto com a Caroline Araújo, participei da II Mostra Acadêmico – Científico de Educação, Ciência e Tecnologia de Niterói, uma experiência única, pois conheci o trabalho de professores de diferentes disciplinas atuantes na rede pública de ensino de Niterói, como as atividades de física com alunos surdos, aulas de educação física com discussão sobre gênero e racismo, etc. É satisfatório observar o empenho dos colegas de profissão em levantar questões sociais pertinentes e de promoverem aulas diversificadas que agreguem todos os alunos.

Findadas as atividades do ano de 2016, comecei meu trabalho em 2017 no CEAL com as turmas de 8º ano junto com o colega Alexandre Gubani. Em fevereiro realizamos nossa primeira atividade com biografias, trazendo a história de Mary Wollstonecraft – defensora do direito das mulheres no século XVIII – para o conteúdo sobre Iluminismo. Em março, tive a oportunidade, concedida pela minha supervisora Priscila Artte, de ministrar uma aula sobre a história das mulheres na Revolução Francesa. Levando fontes históricas, tanto em documento – “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã” –, quanto em imagens – do Clube Patriótico das mulheres e da Marcha das mulheres revolucionárias para Versalhes – obtivemos grande participação dos alunos na discussão sobre a representatividade feminina nos contextos históricos, e nos dias atuais. Vale dizer que essa aula também foi importante para minha formação, pois além de preparar um plano de aula com métodos diferenciados para os alunos, e “enfrentar” os olhares atentos dos alunos e suas questões sobre o conteúdo, aprendi muito ao pesquisar sobre uma temática que até então desconhecia.

Ao identificarmos uma dificuldade dos alunos em entenderem os séculos aos quais a professora se refere nas aulas, e sabendo que os séculos são importantes para a compreensão dos processos e do tempo histórico, preparamos um material didático explicando como podemos “calcular” os séculos e uma atividade para que eles pudessem fixar, e dedicamos uma aula para trabalharmos com esse conteúdo.

Juntamente com as professora Priscila e os colegas Alexandre Gubani, Rodrigo Lourenço e Brenda Ramos – novos bolsistas – em maio o projeto “Somos alguém na vida: autoria e protagonismo na sala de aula” com as turmas de 8º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio, com o objetivo de nos aproximarmos das suas realidades de vida dos alunos, buscando trabalhar a ideia de sujeito dentro do processo histórico e ainda buscamos tornar o ensino de História mais significativo. A ideia é construirmos através das aulas uma pasta de memórias dos alunos, onde ficarão guardadas seus relatos, fotos, atividades. Estas pastas já estão sendo armazenadas na nossa “Caixa de Memórias”, uma caixinha decorada que separamos especialmente para esse projeto. Começamos o projeto com a exibição do filme “Escritores da Liberdade”, seguido de roda de conversa e a escrita de um comentário sobre o filme. Muitos alunos demonstraram interesse pelos temas abordados no filme, fizeram links com a realidade escolar e do mundo atual, levantando questões importantes como racismo, violência, respeito ao próximo, relação professor-aluno (e vice-versa). Depois de trabalharmos com a música “A história da vida de cada um”, da banda Autoramas, pedimos que os alunos escrevessem um relato sobre algo que tenha marcado suas vidas. Fomos surpreendidos por inúmeros relatos de violência em diferentes sentidos. Diante disso, estamos buscando profissionais da área de Psicologia, Serviço Social e até mesmo do Direito para quem sabe realizar uma palestra na escola para que essas questões possam ser melhor discutidas, e esses alunos (as) possam ser auxiliados. O projeto ainda está no começo – um mês para ser exata – mas já identificamos resultados positivos nos alunos: estão mais atentos às aulas, estão opinando e levantando questões sobre os conteúdos, além de sempre realizarem as atividades propostas para o projeto.

Neste ano também trabalharemos – eu, e os colegas Alexandre Gubani, Brenda Ramos, Juliana Valladas (nova bolsista), Caio Gatto, Caroline Araújo, Ramon Peixoto e Rodrigo Lourenço - com o projeto sobre os refugiados – uma proposta da professora Priscila –, um tema muito pertinente para compreender questões cruciais da política internacional, além de conceitos como terrorismo, racismo, xenofobia, etc. No caso das turmas de 8º ano iremos criar o projeto a partir da leitura do livro infanto-juvenil “Refugiados em busca de um mundo sem fronteiras” de Ricardo Bown.

Considero necessário dizer que a minha supervisora do CEAL, Priscila Artte, me trouxe exemplo de profissionalismo e dedicação ao ensino de história. Sempre traz em nossas reuniões de trabalho reflexões que nos deixa claro que não podemos encarar a escola pública com uma visão fatalista, mas sim com uma visão de esperança e de confiança na qualidade da educação. Nessa perspectiva também foram as reuniões ocorridas mensalmente na UFF com o coordenador Everardo Andrade e os colegas bolsistas e supervisores das escolas coordenadas pelo mesmo. Nesses encontros também apresentamos nossas atividades desenvolvidas e discutimos novas estratégias pedagógicas para nossa participação nas escolas.

Maurice Tardif (TARDIF, 2002) define o saber docente como uma composição heterogênea de vários saberes – disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais. Este último é apresentado pelo autor como fundamental, pois é exclusivo do trabalho do professor. O “saber experiencial” só se aprende na prática, na vivência escolar, no contato direto com os alunos, e o PIBID me proporcionou esse saber. Apreendi que as aulas não podem ser as mesmas em todas as turmas porque cada uma apresenta a sua particularidade; provas e testes são apenas uma forma de avaliação, existem muitas outras que podem ser até mais produtivas; devemos respeitar o conhecimento dos alunos e a partir dele construir um ensino de história mais significativo.

A realidade social dos alunos ultrapassa os muros da escola e se insere intensamente nesse espaço. No CECSP que atendia alunos oriundos de três comunidades próximas, por exemplo, ouvi relatos de invasões policiais diárias que impediam a presença dos alunos na escola. No CEAL muitos alunos saem de suas casas em outras cidades e acabam chegando atrasados devido à distância e a precariedade do transporte público. Além disso, existem alunos que faltam ou não se interessam pela aula por problemas que enfrenta em casa ou até mesmo na escola, como por exemplo, o bullying. A escola se apresenta como um lugar de conflitos políticos e sociais, e infelizmente, de reprodução de diversos preconceitos que foram enraizados na nossa cultura. Enquanto docentes não podemos negligenciar toda essa conjuntura. Devemos encontrar espaços em nossas aulas para discutir questões de gênero, sobre o racismo, sociedade do consumo, política mundial, atual governo e suas medidas para a população, enfim, qualquer tema que implique diretamente na vida do aluno, e assim ele possa refletir, criticar sua realidade e se enxergar como agente dentro do processo histórico.

Estar na escola me fez enxergar que a educação se constrói coletivamente, é um trabalho de toda a equipe escolar – diretores, coordenadores pedagógicos, professores, funcionários –, e também dos alunos. É importante cultivarmos o sentimento de confiança na qualidade da escola pública e ocuparmos esse espaço.

A troca de experiências e o aprendizado diário estiveram presentes nesses meus dois anos de participação no PIBID, e construíram a minha transformação pessoal e profissional. Me vejo como uma professora em formação que acredita na educação pública de qualidade, que continua na busca por conhecimento e por maneiras de tornar sempre a História significativa e pertinente na experiência de vida dos alunos.

 

 

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