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Acervo Trajetórias Docentes

Entrevistado: Flavia dos Santos Cordeiro Pereira
Entrevistador: Entrevista Pública - PIRP
Tipo: entrevista temática
Duração: 43:35
Local: Gragoatá - IHT, Auditório do Bloco O - 2º andar
Data: 11/08/2018
Sumário

Entrevista Pública de Flávia Pereira (C. E. Raul Vidal)

 

Everardo Paiva: A estrela da tarde é a professora Flávia, com a experiência maravilhosa no antigo projeto do PIBID, professora do Raul Vidal, e hoje ela vai compartilhar com a gente um pouco da sua trajetória de vida. Não é isso, Flávia?

Flávia Pereira: É isso.

Everardo Paiva: Você quer começar falando, quer que a gente... Na verdade a primeira curiosidade é saber como é que foi a sua trajetória pela escola, como é que você passou pela escola, quando é que apareceu essa intenção de ser professora.

Flávia Pereira: É, bom, assim... boa tarde primeiro para todo mundo, estou um pouquinho nervosa porque não parece, mas eu sou tímida, quem foi meu aluno – e eu tenho um ex-aluno ali atrás que agora é aluno da UFF – e vocês sabem que na sala de aula eu sou toda performática mas, assim, falar aqui com os pares é mais complicado. Mas enfim, a minha trajetória... eu sempre estudei na escola pública; Para não dizer que eu nunca estudei em escola particular, o meu jardim de infância foi em uma escola particular, mas de resto minha trajetória foi toda na rede municipal do Rio de Janeiro, depois, o Ensino Médio eu fiz no colégio Pedro II e a faculdade, a minha graduação, eu fiz na UFRJ, lá no Largo de São Francisco. Eu peguei a Educação Pública, no caso do município do Rio de Janeiro, em um momento que foi o período do final da ditadura militar: eu fui aluna da rede municipal até 1988, era uma coisa ainda de escola muito tradicional com uma disciplina muito grande, ainda com os tempos de aula de moral e cívica, o que eu espero que não retorne; moral e cívica, o que é moral, o que é virtude, a gente tinha que decorar aquilo tudo, nos levantarmos no momento em que o professor e o diretor entrava em sala de aula. Foi um tempo bom em que a gente observava que tínhamos um carinho, apesar de tudo, com a Educação Pública, principalmente com o Ensino Fundamental. Depois fui para o Colégio Pedro II, que foi uma experiência completamente diferente, porque aí eu pude ir para uma escola que tinha o objetivo de formar um cidadão, um ser político, pensante, propriamente dito. Então, assim, eram vários projetos que eram realizados na escola, várias feiras culturais, vários debates - a gente era estimulado a debater o tempo todo -, não se tinha apenas a preocupação - embora a média fosse sete e a gente tinha que suar para conseguir aquele sete -, não era uma escola preocupada simplesmente em fornecer o conteúdo para que você alcançasse aquele sete, mas fazer com que você mesmo buscasse estratégias para construir o seu conhecimento e fazer com que aquele sete fosse um detalhe para você. Então foi um período muito positivo e que eu considero que foi essencial pra escolha da minha formação acadêmica que era voltada para a Educação Pública. Acho que justamente por ter passado a minha vida toda escolar em um ensino público e gratuito, a minha intenção era um dia poder fazer isso, continuar esse trabalho na educação pública e gratuita. Daí a minha opção pela História e daí a minha opção por fazer uma universidade pública e o Pedro II contribuiu muito para isso nesse sentido, foi um projeto pioneiro no ano em que eu estava no 3º ano do Ensino Médio e que eles dividiram o 3º ano por áreas de interesse, aí diferenciaram a carga horária das disciplinas em função da área de interesse daquela pessoa. Então eu fui para a turma de humanas, com a ênfase muito grande nas aulas de português, de geografia, de história, filosofia, sociologia, e passei, diga-se de passagem, para todas as públicas para as quais prestei o vestibular, sem precisar de um cursinho pré-vestibular, porque essa Educação Pública de qualidade me proporcionou isso. Então fiz a minha graduação na UFRJ, que também foi um período bastante turbulento – eu entrei no impeachment do Collor, então em 92 a gente saia do Largo de São Francisco, saia dali do IFCS e ia para a Avenida Rio Branco com a cara pintada participar das manifestações do “Fora Collor”, que eu me orgulhei muito de ter participado desse momento histórico, de ter vivido a história em loco. E, como eu posso dizer? A UFRJ para mim foi essencial na construção da profissional que eu sou hoje, ter podido conviver , ter tido a honra de ter sido aluna de Anita Prestes, por exemplo, foi essencial; professor, também, como o Fragoso, Marieta Morais, foram ícones que a gente teve a oportunidade de beber na fonte deles, não só na produção historiográfica mas na sala de aula, no dia-a-dia, conviver com essas pessoas, se inspirar na conduta dessas pessoas. Assim que eu terminei a minha graduação, nem tive a colação de grau, digamos, uma cerimônia de solenidade, porque assim que eu terminei a minha graduação, eu passei no concurso para a rede estadual. Foi seguidinho. Colei grau no departamento de História na UFRJ só assinando uma declaração para poder então tomar posse na rede estadual e vim justamente para o Colégio Estadual Raul Vidal, onde estou há 20 anos.

Juniele Rabelo: Então antes de você chegar nesse período pós formação, queria voltar em duas questões. Primeiro, na questão da sua família, se você é a primeira a ingressar na universidade, se tem muitas professoras; e, a segunda, lá na sua formação inicial, no Ensino Básico, como você citou alguns professores no curso de História, se tem alguns professores lá no Ensino Básico que remetem essa questão da história, dessa escolha que você fez.

Flávia Pereira: A minha opção pela história se deu basicamente no Ensino Médio; dois professores foram essenciais, a professora Ana Maria e a professora Erci Maria, que eu tive no colégio Pedro II na unidade São Cristóvão. Inclusive, Ana Maria depois assumiu a coordenação de história na unidade Pedro II - São Cristóvão. Assim, elas eram modelos de mulheres fortes, que buscavam e lutavam por um ideal, por uma sociedade mais justa, por uma educação de qualidade, e isso tudo buscando mostrar para gente o que estava ali na nossa mão, ao nosso alcance com a interpretação da realidade que nos cercava, através da utilização da história como essa ferramenta, e que nós éramos agentes transformadores da realidade que a gente vivia. Então elas foram as minhas inspiradoras, efetivamente. Com relação à família, o meu pai foi a primeira pessoa a fazer uma faculdade, meu pai é advogado, mas ele foi fazer a faculdade dele já com mais de 40 anos de idade. Então ele tinha feito um curso de técnico em contabilidade, e ele iniciou a carreira dele... aliás, minto, a carreira dele se iniciou na vida militar, em um primeiro momento, em que ele entrou para servir ao exército e de lá ele seguiu carreira, mas não deu muito certo porque ele não é uma pessoa nada disciplinada. Ele foi pego, inclusive, pulando o muro do quartel, para sair do serviço, mas então ele viu que aquela situação ali não era para ele. Então ele fez um concurso para Polícia Federal, foi para Roraima, trabalhar na Fronteira, só que naquela época já era muito complicado trabalhar na Fronteira pelas questões do tráfico de drogas, que já era muito presente nesse momento, e ele optou por sair de lá, voltou para o Rio de Janeiro. Aí sim ele fez o curso de técnico de contabilidade e trabalhou durante muitos anos nessa função no jornal O Dia, ele era assessor do então governador da época e proprietário do jornal, que era o Chagas Freitas, ainda quando era o Estado da Guanabara. Depois o jornal foi vendido, ele foi mandado embora, mas ainda nesse período da ditadura não se tinha concurso público e aí o governador Chagas Freitas colocou praticamente todos os funcionários do jornal para serem servidores públicos. Então meu pai acabou se tornando um servidor do município do Rio de Janeiro, por onde ele se aposentou. Nesse contexto em que ele foi demitido, ele foi buscar o Ensino Universitário, mas não em uma faculdade pública, ele fez em uma faculdade particular. Na minha família, a primeira e única a fazer uma faculdade pública fui eu, seguindo a sequência acadêmica normal, sem precisar para poder trabalhar, eu saí direto do Ensino Médio para o Ensino Superior, que na época foi motivo de grande orgulho para a família toda. Depois, além de mim, no meu lado materno que sou eu e mais 5 primos, só mais uma que fez o nível universitário, depois veio em uma faculdade pública também e o meu irmão fez em uma faculdade particular. Só nós. Mais ninguém. E no meu lado paterno, a situação é ainda pior, eu tenho um primo que é do exército, oficial do exército, e tenho também um outro primo que se formou em História também, em História da Arte. Então na família, ele foi a minha referência por fazer História e ele também fez na UFRJ. São esses dois e ele inclusive trabalha no setor de ensino no Museu de Belas Artes no Rio de Janeiro. Só. Mais ninguém.

Everardo Paiva: Mas não tem na sua família, Flávia, nenhuma professora? Nenhum professor?

Flávia Pereira: Não, ninguém. Ah, depois de mim essa minha prima que fez em uma faculdade pública também, ela é pedagoga.

Everardo Paiva: Então para você, em um primeiro momento, não aparecia uma influência da família para que você pudesse se tornar professora...

Flávia Pereira: Não, inclusive a pressão foi grande para que eu não fosse professora, que eu fizesse a faculdade de direito porque meu pai já era advogado, já tinha um escritório e eu poderia trabalhar com ele. Então seria tudo mais fácil para mim, mas eu, na época, optei por não seguir esse caminho, não era a minha vocação, eu queria realmente a escola pública, eu queria a sala de aula. Então acabei, contra tudo e contra todos, fazendo a faculdade de História. E não me arrependo, até hoje, diga-se de passagem.

Juniele Rabelo: E quais eram os temas, as suas referências na formação em História e o porquê de ser professora?

Flávia Pereira: História do Brasil, sempre foi a minha principal área de interesse, e as questões que levaram a tantas transformações ao longo do tempo nessa sociedade brasileira, em que a gente mudou muita coisa mas outras tantas permaneceram iguais. Então a minha área de interesse sempre foi a área Vargas, por aquele divisor de águas nos direitos trabalhistas, que a gente sabe, obviamente, que não foi uma benesse, foi uma conquista do trabalhador, mas que até então não se tinha; e entender como isso foi se perdendo ao longo do tempo e agora mais ainda. A História do Brasil em si, do Brasil contemporâneo, sempre foi a minha área de predileção mesmo. Inclusive, estou terminando uma especialização nesse momento sobre a história do Brasil contemporâneo.

Juniele Rabelo: E a formação docente?

Flávia Pereira: A minha formação docente foi a minha graduação na UFRJ, em que eu logo no segundo período consegui uma bolsa – coisas que não acontece, meninos, não acontecem, assim, de uma hora para outra – e nem era na área de interesse que eu gostaria de atuar, foi no setor de História da América que eu consegui, foi logo a minha bolsa de iniciação científica assim que eu entrei na faculdade, no segundo período já. Então eu consegui levar toda faculdade sem precisar trabalhar porque tinha conseguido a bolsa de iniciação científica, em que eu fui trabalhar no PEA – Programa de Estudos Americanos – da UFRJ com a professora Francisca Azevedo, a professora Eliane Dairel. E aí fui levando até conseguir conciliar algumas coisas do período da História da América comparando com a História do Brasil no mesmo momento, no Brasil contemporâneo, mas realmente não era o meu foco. Não era. Tanto que a minha monografia foi sobre a crise do Segundo Governo Vargas e para minha sorte tinha um professor vinculado ao PEA, que era o professor Lincoln Penna, que trabalhava com a História do Brasil também, que comparava a História do Brasil com a História da América. Foi aí que eu consegui me encontrar dentro do Programa de Estudos Americanos. Depois de formada, eu já comecei a trabalhar logo na rede estadual, tive minha vida acadêmica interrompida, digamos assim, porque logo assim que eu me formei passei no concurso, já namorava há muitos anos, então “poxa, vamos casar”. Casei, logo no ano seguinte tive um filho e aí as funções de profissional, dona de casa, mãe acabaram realmente me tirando desse circuito acadêmico. Sempre com a vontade de voltar, mas sempre acontecia alguma coisa que “não, nesse momento não dá, vamos colocar um pouco mais para frente”, até que nesse momento veio o PIBID na minha vida. E aí...

Everardo Paiva: Antes de entrar no PIBID... eu sinto que ela quer falar do PIBID. Você está no PIBID por causa do Raul Vidal, mas o Raul Vidal não é sua única experiência como professora. Quais são as suas experiências como professora?

Flávia Pereira: É, foi a minha primeira experiência porque assim que eu passei, com 25 anos, eu passei logo no concurso público e entrei no Raul Vidal, foi a primeira escola que eu dei aula, e que foi uma realidade completamente diferente, foi um choque para mim, porque estava vindo do Ensino Médio no Pedro II, que era um tipo de ensino, depois o meu estágio, eu fiz no colégio de aplicação da UFRJ, que era uma realidade ainda mais diferente, embora seja uma escola pública e gratuita, os alunos que estudavam lá não eram aqueles que a gente está acostumado a ver em colégio municipal de ensino, na rede estadual de educação. Então eu chegava lá no meu ônibus e eu via os alunos chegando com um carro importado, alguns com motorista. A minha aula para a minha formação, que foi sobre Conjuração Mineira, quando fui falar, vincular a Conjuração Mineira com a Revolução Francesa, um aluno levantou o braço, eu pensei que ele fosse tirar alguma dúvida, mas ele veio complementar o que eu estava falando, que ele pôde observar tudo aquilo na viagem que ele fez em janeiro para Paris e ele teve contato direto com tudo aquilo que eu estava falando ali naquela aula. E eu só conhecia Paris, hoje em dia a gente vê pela internet, eu conhecia por cartão postal porque não tinha internet naquela época. Então passei logo para o Raul Vidal, o que foi um choque para mim, eu vim dessa realidade educacional diferente e também com um vocabulário totalmente acadêmico e os alunos não entendiam nada que eu falava. Eu olhava para eles, eu falava com aquele vocabulário todo acadêmico, com aquelas palavras rebuscadas da literatura toda que eu tinha feito, e eles olhavam para mim com uma cara de um grande ponto de interrogação. Eu tive que parar um dia e conversar com eles, “vem cá, vocês estão entendendo o que eu estou falando? A gente está falando a mesma língua?”; e aí uma aluna falou assim: “professora, fala português que a gente está entendendo nada do que a senhora tá falando, tem um monte de palavra que a senhora está falando aí que a gente nunca ouviu na vida”. E aí eu vi que eu tinha que fazer uma adequação do conteúdo que eu sabia, de como eu tinha aprendido isso, e fazer uma filtragem para poder passar isso para o meu aluno, para poder afetar de alguma forma esse meu aluno. E aí que efetivamente minha trajetória docente começou, quando deu esse clique, entendeu? E além do Raul Vidal, sempre trabalhando nesse contexto, sempre fui Ensino Médio, eu fiz um concurso para uma segunda matrícula no Estado, e que eu também fiquei no Raul Vidal, consegui colocar a segunda matrícula no Raul Vidal, só que aí eu coloquei no turno da tarde. Trabalhava de manhã com o Ensino Médio, lá de manhã só temos o Ensino Médio, à tarde que funciona o Ensino Fundamental. E aí eu me deparei com a turma de sexto ano, e essa realmente foi a minha provação. Eu acho que quem dá aula para sexto ano está preparado para dar aula em qualquer série, para qualquer tipo de aluno na vida. Eram 40 alunos em sala, em que eu, para poder acomodar o horário, dava 3 tempos seguidos nessa turma, de geografia, não eram nem de história porque não dava para acomodar todos os tempos em história na mesma escola e naquela época, com a carência de professores de geografia, a Secretaria de Educação permitia que a gente desse aula para o fundamental de geografia também, história podia dar aula de geografia. Eu tinha que estudar para poder dar aula para eles e ainda tinha que apagar os vários incêndios que aconteciam na sala ao mesmo tempo com os alunos me chamando de tia, coisa que nunca tinha acontecido antes, me perguntando o tempo todo se era para copiar, o que estava no quadro, se era de lápis ou caneta, se era caneta azul ou vermelha, se tinha que pular linha, que o amiguinho xingou a mãe, que não sei quem pegou o caderno, que não sei quem roubou a borracha. Nesse momento eu realmente me vi muito perdida e muito confusa, “o que eu estou fazendo aqui? Será que é realmente isso que eu quero?”. Mas eu vi que era. Me reinventei novamente e aí fui pelo caminho da doçura: virei uma grande mãe na turma, daquela que passava na mesa do aluno, fazia um carinho, dava um beijinho, “que bom que você conseguiu”, fiz até carimbo “parabéns, seu trabalhinho está feito”, “olha que maravilha, ó, se você não fizer direito eu vou mandar um bilhete no seu caderno pro responsável, para a mãe saber o que você está fazendo em sala de aula”, enfim... Acabei adotando esses alunos como meus filhos também, meu filho tinha mais ou menos a mesma idade também nessa época. Afetou dessa forma. E aí depois eu passei, fiz um concurso público para o município do Rio de Janeiro, também para trabalhar com ensino fundamental, mas apesar de serem seguimentos semelhantes, lá eu sinto que meu alunado do Rio é completamente diferente do alunado que eu tinha no Raul Vidal. O Raul Vidal, para quem não conhece, que fica aqui no centro de Niterói é uma escola que chamam de “escola de passagem”, é uma escola central em que nós temos a maioria dos nossos alunos que não são nem de Niterói, são de São Gonçalo, são de Itaboraí, são de Rio Bonito, que não encontram vagas nas escolas de lá ou que dizem que as escolas de lá estão muito sucateadas, são muito problemáticas; eles preferem atravessar seus municípios e virem para Niterói. Quer dizer, é um alunado que as questões de onde eles vivem, os problemas enfrentados de onde eles vivem, não são resolvidos no cotidiano da escola. É uma situação muito diferente da que eu tenho no município do Rio de Janeiro, que é praticamente uma escola de comunidade. Todas as questões, todos os conflitos, todos os problemas que acontecem fora da escola, eles são resolvidos dentro do colégio. Muitas vezes você se vê sem o que fazer porque são questões até que envolvem muita violência, envolvem bastante desrespeito. Não são com o professor, mas entre eles, indivíduos que de repente percebem que não podem estudar na mesma escola porque o local onde eles vivem está dividido entre facções diferentes e eles não podem conviver no mesmo espaço. Há uma preocupação deles também em querer saber de onde a gente vem porque o professor pode ser um informante de situações que estão sendo resolvidas dentro do colégio. Então é sempre uma tensão. Gosto muito da escola onde eu trabalho, mas você tem sempre que estar pensando mais à frente no impacto do que a sua fala vai ter, como isso vai ser recebido dentro e fora da escola.

Everardo Paiva: Posso fazer uma pergunta complicada para mim? A Flávia é professora no Raul Vidal, uma escola, como ela disse, de passagem; professora em uma escola do Rio de Janeiro, uma escola de comunidade, então trabalha com alunos que tem a expectativa de vida muito variadas. Como é que ela faz para ensinar história?

Flávia Pereira: Difícil, difícil. Aqui no Raul Vidal, por exemplo, é mais fácil porque você percebe que os alunos que chegam para nós, na sua maioria, são alunos que querem dar prosseguimento a sua vida acadêmica, eles não desejam parar no Ensino Médio. Aqueles que não tem interesse em seguir, normalmente eles nem concluem o terceiro ano porque essa é uma lógica também perversa do nosso sistema de educação e eu já conversei isso com os meninos que foram fazer tanto o PIBID quanto a Residência Pedagógica. Nós começamos o Ensino Médio com aproximadamente 9 turmas de primeiro ano, quando chega no segundo ano a gente já tem uma redução para 6 turmas de segundo ano, que caem para 3 turmas de terceiro. Então a maior parte dos jovens que iniciaram conosco o Ensino Médio, eles não se formam no terceiro ano. Essa é uma realidade bem concreta para gente. E mesmo aqueles que chegam no terceiro ano, a gente não tem a garantia de que eles vão se formar por n situações: a conjuntura econômica, uma questão de violência, o Riocard que não passa e eles não tem o dinheiro para pagar passagem e acabam parando de estudar, a gravidez na adolescência que está atingindo níveis bastante altos no Raul Vidal – a gente em uma série de alunas, principalmente meninas que são as que mais se afastam, saem para ter os bebês e não retornam, acabam não concluindo o Ensino Médio, é uma realidade. Mas no geral, aqueles que conseguem chegar no terceiro ano, eles têm um foco que é o de chegar no nível universitário. Então eles veem um sentido naquilo que está sendo proposto para eles ali. Agora, realmente, a minha escola municipal na prefeitura do rio é bastante complicada. Eu tento cativar esse aluno a ter o interesse e gosto pela história através do gosto que ele tem por mim, do interesse que ele tem por mim. Eu tento fazer que ele seja, através de mim e da simpatia que ele tem por mim, que ele tenha simpatia pelo estudo da história também e passe a ver que a história não é só um decoreba, coisa que aconteceu há muito tempo e que não tem nada a ver com o presente que ele vive hoje. Sempre buscando, né, “olha, hoje a gente está estudando isso aqui, mas hoje em dia, você consegue na sua realidade, no teu entorno, na sua família, nas suas relações, você consegue buscar alguma identificação com o que a gente está trabalhando aqui? Vamos produzir um desenho? Vamos produzir um textinho? Vamos fazer alguma atividade em que a gente possa conversar sobre isso e que você possa desenvolver isso?”. E assim que as coisas vão caminhando, mas caminhando a passos muito lentos, não tem como a gente tapar o sol com a peneira, mas é uma luta diária.

Juniele Rabelo: Nós podemos chegar no PIBID [risos]...

Flávia Pereira: [risos] Agora podemos chegar no PIBID

Juniele Rabelo: Pensar um pouco nisso, como foi a escolha para participar de um processo seletivo para assumir as responsabilidades de supervisora com o PIBID, esse encontro com a UFF, universidade e escola...

Flávia Pereira: Para falar a verdade eu nem sabia da existência do PIBID, sendo muito sincera, um dia eu vi os professores do Raul Vidal porque nós tivemos PIBID praticamente de todas as disciplinas. Nós tínhamos alguns professores que tinham iniciado o PIBID em 2013, o Luís Otávio foi um exemplo, o professor Luís Otávio lá do Raul Vidal também, tinha um PIBID de História com Luís Otávio, tinha um de Português com a professora Amelia que é a nossa diretora e um de física, se eu não me engano. Aí eles participaram desse momento preliminar e depois, em 2014, esse projeto se ampliou e foi feita uma propaganda lá na escola: “poxa, vamos entrar no PIBID, vai ser legal para a escola, quanto mais PIBIDs a gente tiver, a gente vai poder melhorar a qualidade do ensino no Raul Vidal”, porque diga-se de passagem, havia uma cobrança muito grande lá na escola por conta dos índices de reprovação - eu já falei para vocês aqui, 9 que caem para 6 que caem para 3 é um nível de evasão escolar e reprovação muito alto; isso só no Ensino Médio, sem contar o Fundamental. Então a coordenadoria sempre em cima de nós porque algo precisava ser feito para a gente reverter esse alto índice de reprovação. Então a gente começou a pensar e ver o PIBID como uma possiblidade da gente transformar, da gente mudar esse contexto. E aí todos, praticamente todos os professores de todas as disciplinas acabaram se inscrevendo nos processos seletivos. E, assim, eu vim com essa expectativa “o que eu posso fazer?”. Eu já estava cansada das minhas aulas, eu já não estava mais aguentando a maneira como eu estava encarando meu alunado, como eu estava me propondo a ensina a história e também depois de tanto tempo afastada do meio acadêmico acabava utilizando o livro didático como uma muleta, sem tempo para poder fazer uma pós-graduação, sem uma oportunidade para me atualizar, para ter contato com o mais recente que estava sendo produzido na academia, então o que acabava acontecendo? Vamos pegar o livro didático, vamos ler o capítulo, fazer um resumo para colocar no quadro e explicar isso para os alunos. Eu estava muito insatisfeita com essa prática, queria fazer alguma coisa diferente, mas não sabia o que e não sabia como. E aí o PIBID veio para me colocar de novo em contato com a universidade, de novo em contato com essa produção acadêmica e com as várias possibilidades que eu tinha de mudar essa minha relação com a sala de aula, com o meu aluno, com a minha prática pedagógica. Assim, mudou da água para o vinho. Mudou muito, eu comecei a sentir, voltei a ter prazer em dar aula, que eu vinha perdendo esse prazer ao longo dos anos. Em buscar atividades diversificadas, em dar mais fala pro meu aluno porque até então estava sendo aquela aula bem, como eu posso dizer, bem burocrática, eu colocava o conteúdo no quadro, eu manda abrir o livro na página tal, vamos fazer um exercício, eu falava falava falava falava o tempo todo e o aluno ficava me olhando com cara de paisagem, chega um momento que ele já não registrava mais nada do que eu estava falando e eu continuava falando mesmo assim. Isso estava me incomodando demais. O PIBID me trouce essa oportunidade de dar mais voz pro meu aluno, de buscar fazer mais atividade, mais rodas de conversa e conhecer melhor esse aluno.

Everardo Paiva: Mas você não se sentia sobrecarregada? Porque além de você ter o trabalho com os alunos da escola, em um certo sentido você passou a receber uma galera de licenciandos em que você era responsável por aquele grupo como supervisora.

Flávia Pereira: Não, a troca foi muito boa. Aliás, diga-se de passagem, o grupo com o qual eu trabalhei são irretocáveis. Pessoal que veio com comprometimento de querer também buscar a escola como um laboratório para eles saberem o que eles iam enfrentar quando se formasse, eles buscaram ser parceiros dos alunos, então logo de cara eles já quebraram o gelo com os meninos a ponto dos alunos perguntarem quando algum deles faltava “mas porque fulano não veio hoje? Não quer mais saber da gente?”. E aquela expectativa, “professora, pro ano que vem tem PIBID de novo, né? O pessoal continua aqui no PIBID?”. Então eles trocavam muito comigo, eles traziam o material que eles estavam vendo na faculdade, eu passava para eles a minha experiência enquanto profissional, a gente montava as atividades juntos, a gente executava as atividades juntos, sempre surgia ideias muito boas. A troca com esse pessoal do PIBID foi maravilhosa. Foram quatro anos, de 2014 a 2018, em que eu me vi uma outra professora, me metamorfoseei mais uma vez, foi muito bom! E senti falta nesse periodozinho agora de março até agosto, eu olhava para sala “cadê o pessoal da UFF? Cadê os meus meninos do PIBID?”. Senti muita falta deles e isso me motivou a vir para a residência.

Juniele Rabelo: Quais foram as principais atividades lá no PIBID?

Flávia Pereira: Bom, os eixos principais que a gente buscou trabalhar foram as relações étnico raciais porque como é uma escola pública, 80% do nosso público é negro, é mestiço, então a gente tinha que dar esse enfoque e eram questões muito mal resolvidas dentro da escola. Também buscamos dar visibilidade a questão gênero e da sexualidade, até por conta dos altos índices de gravidez na adolescência no colégio. Também o Raul Vidal é um colégio que acaba sendo famoso aqui em Niterói por acolher bem os LGBTs, sempre foi assim, então muitas vezes os alunos não se sentiam confortáveis em outras escolas aqui de Niterói, eles iam buscar o Raul Vidal porque sabiam que lá eles não seriam discriminados; era o Liceu e o Raul Vidal, esses dois eram os ícones aqui no município. Entramos por essa vereda também e trabalhamos muito com filme, a gente fazia cineclubes constantes, e roda de conversa, muitas, muitas rodas de conversa. E o Clauder, que era um dos nossos licenciandos, ele é MC, rapper, então ele usava a questão da música para trabalhar as dificuldades que esses alunos tinham, os sentimentos, as questões, colocar tudo isso para fora. Então nós fizemos festivais de rap lá na escola, roda de rima, o que os alunos se interessaram bastante, também fizemos oficinas para valorizar a cultura negra né, oficina de turbante, rodas de conversa trazendo mulheres negras retratando a sua experiência. Enfim, a gente trouxe o aluno para que ele se colocasse como protagonista, visse que ele não era diferente, que ele tinha o direito a fala, que ele tinha o direito de se expressar, de colocar suas opiniões e a gente cana... só canalizar. É isso, entendeu? Han, deixa eu ver... cineclube étnico-raciais e jogos! Os jogos, a gente buscava muito vincular também a questão dos games com o ensino de história, né. A gente ainda brincava com eles “olha, quando a mãe de vocês reclamarem que vocês estão jogando muito videogame, diz que vocês estão estudando... pega ai um Assassin’s Creed da vida, um God Of War e vamos buscar... explica até para a mãe o que que isso tem a ver aqui, fala da história da Grécia Antiga, fala da Revolução Francesa, Independência dos Estados Unidos está nesses jogos e tal”, e a gente buscava “vem cá, mas quando você está jogando esse videogame, depois de uma aula dessas de Revolução Francesa ou de Independência dos Estados Unidos, você pegou lá seu Assassin’s Creed, o que você consegue pontuar, o que você consegue estabelecer de relação com o que você viu aqui e o que você está jogando lá? Quando você pega um God Of War, quando você está vendo uns deuses gregos ali, eles se matando, Kratos matando todo mundo, que que isso tem a ver com a História Antiga que você viu aqui no colégio? O que isso tem a ver com o contexto de Grécia? O que você consegue ver de mudança, permanência?”. E dessa forma nós trabalhávamos com os filmes também.

Everardo Paiva: Eu ia perguntar sobre a relação entre você e o Luís que eram os dois de História e o... O Raul era uma escola que acolhia um monte de subprojetos né. Como é que era a interação por dentro, entre os projetos?

Flávia Pereira: Olha, eu vou falar para você que poderia ter sido melhor. E essa é uma das coisas que eu me ressinto no PIBID, da minha experiência no PIBID. É uma escola grande em que nós tínhamos muitos projetos no PIBID mas que muitas vezes a gente só sabia o que cada um estava trabalhando na semana acadêmica. Infelizmente, né. Os projetos não se conversavam nem dentro da escola. E nem mesmo eu e o Luís, né, porque a gente, durante um período, trabalhou em dias diferentes, então a gente não se encontrava e acabava não se articulando. Ele acabava desenvolvendo alguns projetos com o grupo dele, eu desenvolvia outros com o meu grupo e a gente só se encontrava e via que muitas vezes eles convergiam na semana acadêmica.

Everardo Paiva: Eu estou fazendo essa pergunta porque a escola dela tinha duas características interessantes: primeiro, era uma diretora que tinha sido supervisora e, segundo, era uma das raras, senão a única escola, que abria a sala dos professores no horário de recreio para que os pibidianos fossem para lá tomar café com os professores. Por isso eu estou perguntando porque criavam uma comunidade mesmo.

Flávia Pereira: Isso, isso. Mas infelizmente até isso se perdeu agora em função desse sucateamento todo da rede estadual, falta de funcionários, etc, muito desses laços, desse acolhimento que o Raul Vidal teve, agora recentemente até por causa das eleições, as coisas ficaram tão polarizadas que esses laços fraternos acabaram se diluindo. E hoje em dia tem alguns licenciandos aqui que são meus, que estão lá, eles não podem mais entrar na sala dos professores, eles não podem mais nem tomar aquele cafézinho com a gente. O discurso oficial é o de que contenção de verbas, gasta-se muito com café e biscoito, então eles não podem mais entrar na sala dos professores, mas na verdade a gente sabe que na realidade não é só isso, né. Tem professores que não se sentem à vontade com os licenciandos dentro da sala dos professores porque eles se sentem constrangidos nas suas falas. Essa é a questão.

Juniele Rabelo: E quais são os desafios agora e o seu ingresso, porque continuar na Residência Pedagógica dentro desse novo contexto, desse novo desafio?

Flávia Pereira: É um ato de resistência mesmo porque eu observei que, principalmente do ano passado para cá, a educação na rede estadual e especialmente lá no Raul Vidal, ela está atravessando um processo de crise muito sério. Muito, muito sério. A escola está extremamente sucateada, a gente percebe que a direção está querendo fazer um trabalho legal, ela está querendo manter dentro do possível as coisas funcionando, mas a situação está extremamente precária. Falta verba, aflta funcionário, falta de tudo. E o nosso alunado, infelizmente, percebeu isso, que estamos em um momento que está todo mundo batendo a cabeça. Essa é a verdade, infelizmente. E esse nosso alunado está se aproveitando desse contexto de fragilidade e está realmente, como eu posso dizer a vocês, subvertendo todo trabalho que a gente fez, a configuração de uma escola, “Você tem a hora para entrar, você tem a hora para sair, você não é obrigado a ficar na sala de aula se você não quiser nesse momento, mas é importante que você esteja aqui”, mas eles não estão conseguindo perceber isso. E eles fogem da escola, a gente chega... uma turma que tem 30 alunos no primeiro tempo de aula, fica no último tempo com 2, 3 alunos em sala de aula e, assim, sem autorização nenhuma para ir embora. Então é uma questão de novamente tentar cativar esse aluno, tentar mostrar para ele o quão importante é a educação, que é o caminho para ele transformar a realidade dele, para ele mudar o contexto social de onde ele vive, modificar o entorno, modificar a própria família, que essa é a ferramenta, essa é a aposta, né. Então a minha intenção é exatamente essa, de permanecer e tentar mostrar para esse aluno que a educação é saída. E que é junto, eles e nós, professores, vamos conseguir transformar essa realidade, nós é que vamos conseguir mudar o contexto em que o Raul Vidal está vivendo nesse momento, que a rede estadual está vivendo nesse momento, que o país, de uma maneira geral, está vivendo nesse momento.

Everardo Paiva: E as perspectivas da Flávia daqui para frente? Como pessoa, como professora, como profissional, como estudante de história...

Flávia Pereira: Bom, a minha perspectiva é de não parar nem no aspecto profissional da Residência Pedagógica, continuar nessa luta, e é também seguir no meio acadêmico. É, então, através dessa proximidade com a UFF que o PIBID me proporcionou, eu busquei entrar em uma pós-graduação, confesso que eu estava com medo de entrar depois de tantos anos afastada, senti uma dificuldade grande, eu fui fazer uma Lato Sensu né; eu não quis começar, estava comentando com o Everardo, eu não quis começar logo de cara com o mestrado porque tive medo, tive medo realmente de saber, de pensar assim “eu não consigo mais produzir nada”, de dar aquele bloqueio... poxa, eu fui uma aluna de um CR tão legal, que produzia tanto na minha graduação e agora eu não consigo mais escrever, não consigo mais produzir... me deu um pânico. Então falei “vamos aos poucos então”. Entrei na Lato Sensu, estou terminando agora, tenho que entregar o meu TCC e a intenção é de me preparar para o mestrado e seguir, no mestrado, doutorado. Essa é a minha ideia.

Juniele Rabelo: Projetos na Residência Pedagógica agora...?

Flávia Pereira: Bom, os projetos na Residência Pedagógica agora, continuar discutindo essa questão étnico-racial muito presente. Também a intenção era de discutir gênero, continuar nessa questão do gênero e da sexualidade, até por conta do alto índice também de alunos LGBTs de aluno que a gente tem na escola. Caminhar muito nessa questão muito das rodas de conversa, da fala com os alunos, trabalhar muito em cima dos filmes, nesse primeiro momento.

Juniele Rabelo: Nesse período de eleição, as polarizações e recebendo os alunos de Residência Pedagógica, como você sentiu isso dentro da escola, na sala de aula?

Flávia Pereira: Bom, eu pude perceber que doutrinadora eu não sou. Eu pude perceber porque nós fizemos um trabalho, um debate em sala de aula, sobretudo com o terceiro ano – o segundo ano não se manifestava, mas no terceiro ano nós tivemos aulas bem polarizadas entre alunos que eram com uma tendência mais à esquerda, outros com uma tendência mais à direita, mas sempre com a questão da moderação, impedir que eles se agredissem, que eles perdessem a compostura, o respeito uns com os outros. É claro que em alguns momentos as coisas ficavam mais acaloradas e aí a gente entrava no circuito para jogar uma água naquela fervura, mas, assim, pude perceber e percebo até agora que muitos laços que tinham sido construídos desde o primeiro ano do Ensino Médio se romperam agora no terceiro ano por conta das eleições. Isso ficou nítido. Até no momento em que você entra para dar aula, a configuração da turma, você vê uma divisão em que eles se agrupam em função do posicionamento crítico, do posicionamento político que eles têm. Já tive um aluno, que eu até printei as mensagens e mandei para todos os meninos da Residência Pedagógica, de um aluno que tentou me confrontar no facebook, mas obviamente ele não tinha a argumentação necessária para isso, então eu trouxe a questão para dentro da sala de aula, mostrei tudo para o pessoal da turma – e o pessoal já tinha acompanhado também pelo facebook – e trouxe uma bibliografia. “Então, se a gente vai entrar nessa discussão, vamos entrar nessa discussão com base teórica, não vamos nos ater nos achismos, no que a gente vê na internet, nas fake news, vamos buscar uma bibliografia”. Então eu trouxe uma bibliografia, até aquela coleçãozinha básica da Primeiros Passos, O que é capitalismo?, O que é socialismo?, O que é comunismo?; trouxe, “ó, isso aqui é pdf, vocês podem baixar de graça, ninguém vai gastar dinheiro nenhum, ta?”; trouxe algumas discussões sobre o que é fascismo, as características do fascismo, se só um homem poderia ser fascista, um líder fascista, um líder totalitário, ou uma mulher, nos dias de hoje também poderia exercer essa função. Então eu acho que a gente está começando a caminhar, mas ainda com alguma resistência e sempre pisando em ovos para ver como essas questões serão abordadas daqui por diante em sala de aula.

Juniele Rabelo: Alguma coisa, Flávia, que você queria falar e que a gente não perguntou especificamente?

Flávia Pereira: Não, eu só queria encerrar, finalizar fala que assim, a educação vale a pena, a educação pública vale a pena, são muitos os percaussos, são muitas as dificuldades, não dá para a gente imaginar que assim, vamos nos formar e vamos ter um mar de rosas pela frente, mas também não são só dificuldades não, ta? O retorno é muito bom, a acolhida dos alunos é muito boa, sabe, a oportunidade de você trocar com esses alunos, você, assim como dizia Paulo Freire, você construir seu conhecimento a partir também da experiência dele é algo que não tem preço, não tem valor. Então não desistam. Se vocês têm certeza que a educação está muito forte, muito presente na vida de vocês, vão por esse caminho. É difícil mas vale a pena.

 

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