Como nossos pais. Uma História da Memória da Imigração Portuguesa em Niterói, 1900/1950

Este trabalho procura historiar a memória da imigração portuguesa em Niterói a partir da sua inscrição no espaço urbano da cidade na primeira metade do século. Além disso procuramos avaliar que papel a recuperação dessa memória  desempenhou na construção das identidades sociais dos descendentes desses imigrantes. Para tanto analisamos as trajetórias de algumas famílias portuguesas ligadas à construção de determinados espaços de memória e sua participação no processo de urbanização da cidade nos anos 20 e 30. Isto foi feito através de documentos, periódicos e principalmente de depoimentos orais. Nosso objetivo ao trabalhar com a História Oral foi entender a lógica interna das narrativas dos depoentes; acreditamos que ao recontar as trajetórias de seus antepassados, eles constroem personagens míticos que serviram de modelo no processo de formação de suas próprias identidades sociais. Procuramos assim trabalhar a tensão entre o processo imigratório e as narrativas que resgatam seu aspecto épico, numa apropriação da herança imaterial dos pioneiros por seus filhos e netos. Focalizamos duas instituições criadas pelos imigrantes: a Sociedade Portuguesa de Beneficência (Hospital Santa Cruz) e o Centro Musical Beneficente Banda Portuguesa de Niterói, por considerá-las espaços essenciais para a construção da memória da cidade, que se confunde com a da própria comunidade portuguesa. São duas memórias que se interligam construindo uma identidade burguesa e urbana, associada ao processo de modernização do início do século. A cidade do Rio de Janeiro, capital da República, no início do século recebia grande quantidade de imigrantes, parte do processo de transição de uma sociedade que se baseara no trabalho escravo para outra mais moderna, alinhada com a ordem capitalista, o trabalho assalariado e livre. Niterói, capital da província, também absorveu parte desse contingente de trabalhadores que na sua maioria vinha de Portugal. Trabalhamos com a memória familiar, acreditando que ela tem papel importante na transmissão cultural e da experiência dos grupos sociais, que se expressam em valores, crenças, hábitos, visões de mundo, expectativas.